A escassez de produção alimentar e a explosão dos preços associada está a obrigar muitos responsáveis políticos a repensar a aposta nos biocombustíveis como solução energética e ambiental de futuro, pelo menos no quadro actual.
Ontem(29/04) foram os próprios Estados Unidos, cuja aposta no bioetanol já é vista como um contributo para a subida dos preços alimentares, facto que vem sendo reclamado por muitas ONG’s e organismos internacionais – como a Comissão Europeia. “Tem havido, aparentemente, algum efeito [nos preços], uma consequência indesejada do esforço alternativo nos biocombustíveis”, reconheceu Condoleeza Rice, chefe da diplomacia norte-americana. “O debate do etanol pode de facto ser parte do problema e embora acreditemos que os biocombustíveis continuam a ser extremamente importantes, queremos estar seguros de que não estão a produzir um efeito perverso”, acrescentou.
Recentemente, o relator especial das Nações Unidas para o direito à alimentação, Jean Ziegler, defendeu mesmo que a conversão geral da agricultura para a produção de biocombustíveis é “um crime contra grande parte da Humanidade, porque está a perturbar e muito os preços dos alimentos”. Outros problemas a fazer disparar os preços são a distribuição alimentar em zonas de conflito, como o Sudão, e os tectos à exportação impostos por países como a China.
Os biocombustíveis vinham sendo apresentados como o petróleo verde, que reduz dependência energética de zonas de conflito e combate alterações climáticas reduzindo o CO2. Mas com a actual tecnologia – que permite a extracção apenas de bens alimentares como o milho –, este processo precisa de muito terreno arável para produzir matéria suficiente para ser relevante a nível energético. Para muitos agricultores este novo mercado é um ‘el dorado’ porque representa um mercado bem mais estável e rentável, mas isso afasta produção agrícola destinada à alimentação e à produção animal. É essa escassez, aliada à especulação, que tem feito disparar os preços em todo o mundo. Na Europa, os líderes europeus comprometeram-se com uma meta de 10% de biocombustíveis no total do consumo energético para os transportes até 2020. Mas a Europa apenas consome 2% do seu terreno para os biocombustíveis e por isso Bruxelas rejeita qualquer efeito das políticas internas no preço.
Por: Luís Rego
Diário Económico
30-04-2008
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