sábado, 15 de novembro de 2008

Grande nuvem asiática de poluição disfarça aquecimento, diz ONU



Por Emma Graham-Harrison

PEQUIM (Reuters)

Uma nuvem de 3 quilômetros de espessura formada de fuligem marrom e outros poluentes está escurecendo cidades da Ásia, matando milhares de pessoas e prejudicando a produção agrícola, mas estaria protegendo a região dos piores efeitos das mudanças climáticas, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (13).

A imensa coluna de fumaça formada por dejetos de fábricas, incêndios, carros e desmatamento contém algumas partículas que refletem a luz do Sol para longe da Terra, diminuindo o aquecimento do planeta.

"Uma das consequências da nuvem marrom atmosférica tem sido mascarar a natureza real do aquecimento global em nosso planeta", disse Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. As declarações foram dadas no lançamento, em Pequim, de um novo relatório sobre o fenômeno.

O montante de luz solar que chega à Terra atravessando essa nuvem caiu em até um quarto nas áreas mais afetadas e, se o véu marrom dispersar-se, as temperaturas globais podem subir até 2 graus Celsius.

No entanto, o efeito derradeiro de brecar as mudanças climáticas não representa o lado positivo de um fenômeno prejudicial.

A sufocante nuvem de poluentes pode controlar a temperatura, mas a mistura de partículas significa que a poluição está acelerando o aquecimento em algumas das áreas mais vulneráveis e intensificando as conseqüências mais devastadoras do aumento de calor.

O complexo impacto da nuvem, que tende a esfriar áreas próximas da superfície da Terra e aquecer o ar em altitudes elevadas, estaria provocando o encurtamento da temporada de monções na Índia e intensificando as enchentes ali e no sul da China.

A fuligem presente na nuvem também se deposita nas geleiras, um dos temas que mais preocupam ambientalistas e políticos, porque elas alimentam os maiores rios da Ásia e fornecem água potável para bilhões de pessoas que vivem ao longo deles.

Depositadas ali, as partículas capturam mais calor solar do que a neve e o gelo, brancos e refletores - acelerando o derretimento dessa importante fonte de água. Em uma estação de monitoramento instalada perto do monte Everest, a fuligem foi encontrada em concentrações previstas para ocorrerem apenas em áreas urbanas.

Há ainda um custo em vidas humanas. O relatório calcula que cerca de 340 mil pessoas estão morrendo prematuramente em virtude de problemas nos pulmões e no coração e devido a uma probabilidade maior de desenvolver algum tipo de câncer.

Cidades mais escuras, safras menores? - Os cientistas ainda estudam o impacto do fenômeno sobre a produção agrícola. De toda forma, entre os problemas esperados conta-se uma diminuição das safras devido a haver menos energia para a fotossíntese e por causa das maiores concentrações de ozônio.

Pode também haver danos provocados por partículas ácidas e tóxicas presentes na nuvem e que se depositariam sobre as plantas. E mudanças mais drásticas nos padrões climáticos poderiam secar ou inundar áreas de cultivo.

"O surgimento do problema da nuvem atmosférica marrom deve agravar ainda mais a recente e dramática escalada do preço dos alimentos e a dificuldade de sobrevivência entre as populações mais vulneráveis do mundo", disse o relatório.

Como consolo, no entanto, cita-se o fato de, se o mundo parar de emitir as partículas responsáveis pela formação da nuvem, o fenômeno desapareceria dentro de algumas semanas, ao contrário de muitos dos resistentes gases do efeito estufa.

Os ingredientes da nuvem não divergem muitos daqueles encontrados na fumaça que envolve muitas das grandes cidades do planeta, em particular as dos países em desenvolvimento.

No entanto, os cientistas perceberam que essa poluição localizada é um problema global devido à forma como se acumula e se dissemina.

"Costumávamos pensar na nuvem marrom como um problema urbano de escala regional. Agora sabemos que o fenômeno estende-se verticalmente por 3 ou 4 quilômetros e espalha-se", disse o professor Veerabhadran Ramanathan, chefe do painel de cientistas da ONU que está realizando a pesquisa.

Há nuvens marrons semelhantes sobre partes da Europa, da América do Norte, da África e da bacia Amazônica. Os cientistas, no entanto, concentraram-se por enquanto na nuvem asiática, que se estende da península Arábica ao oceano Pacífico.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aumento do nível do mar: Maldivas sem território

Aumento do nível do mar leva Maldivas a procurar território
O presidente eleito da República das Maldivas, Mohamed Nasheed, anunciou planos para comprar um novo território para o seu povo.

Ele está tão preocupado com o aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global que acredita que os habitantes das ilhas que formam o país podem acabar tendo que se estabelecer em outros países.

Com suas praias de areias brancas, palmeiras e mais de mil ilhas e atóis de coral banhados pelas águas do Oceano Índico, as Maldivas, um ex-protetorado britânico, parecem um paraíso.

Mas seu território está encolhendo a cada ano. No último século, o nível do mar em partes do arquipélago subiu quase 20 centímetros.

As Maldivas são a nação com a costa mais próxima ao nível do mar no mundo - seu relevo mais alto fica dois metros acima do nível do mar.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que o nível do mar pode subir globalmente até quase 60 centímetros este século.

Nasheed teme que até uma elevação pequena possa levar à inundação de algumas ilhas. "Nós não podemos fazer nada para impedir as mudanças climáticas sozinhos, então temos que comprar terra em outro lugar. É uma apólice de seguros para o pior quadro possível", afirmou.

O turismo traz milhões de dólares para o país anualmente. O plano do presidente eleito é criar o que ele qualifica como um "fundo soberano" - aplicação de parte das reservas internacionais em investimentos de maior risco e retorno - gerado pela "importação de turistas" da forma como os países árabes fizeram com a exportação de petróleo. "O Kuwait investiu em empresas, nós vamos investir em terras", afirmou.

Nasheed procura um lugar próximo com cultura, culinária e clima semelhantes - possivelmente na Índia ou Sri Lanka. Mas a Austrália também está sendo levada em conta por causa das dimensões de territórios não ocupados. Ele teme que, se não tomar medidas prevendo o futuro, os descendentes dos 300 mil habitantes das ilhas Maldivas podem se tornar refugiados ambientais.

"Nós não queremos deixar as Maldivas, mas não queremos ser refugiados vivendo em tendas por décadas", concluiu Nasheed. 


Fonte: G1

Blog da Terra