sábado, 3 de maio de 2008

Desertos oceânicos estão em expansão

Os desertos oceânicos pobres em oxigénio nos oceanos tropicais expandiram-se nos últimos 50 anos, de acordo com novas medições.

A causa mais provável desta situação é o aquecimento global e os modelos climáticos prevêem que a tendência continue, potencialmente ameaçando todos os ecossistemas marinhos.

A descoberta diz respeito a uma camada do oceano conhecida por zona de oxigénio mínimo, onde as concentrações de oxigénio dissolvido são particularmente baixas. O novo estudo mostra que esta zona se tem expandido tanto para cima como para baixo, em direcção às camadas adjacentes nas águas tropicais.

Os modelos climáticos prevêem que o aquecimento da superfície do oceano em resultado da actividade humana vai impedir a mistura das águas oceânicas, impedindo o oxigénio dissolvido de se distribuir uniformemente através da coluna de água. Os novos resultados sugerem que este processo já começou.

Investigadores liderados por Lothar Stramma, da Universidade de Kiel, Alemanha, mediram a oxigenação dos oceanos a profundidades entre os 300 e os 700 metros durante uma série de cruzeiros de observação nas regiões tropicais dos três maiores oceanos do mundo. Acrescentaram os novos dados a medidas anteriores de teor de oxigénio para construir uma imagem da tendência dos últimos 50 anos.

O teor total de oxigénio desceu nas três zonas, relata Stramma na revista Science. Regiões do Pacífico leste tropical e Índico norte estão agora classificadas como subóxicas, o que significa que a quantidade de oxigénio desceu o suficiente para ser danosa para o funcionamento dos ecossistemas.

Em águas subóxicas, o azoto não consegue reagir com o oxigénio para formar nitratos biologicamente disponíveis, o que significa que os organismos na base da cadeia alimentar, como o plâncton, não recebem nutrientes suficientes para sobreviver, explica Stramma.

O efeito final sobre ecossistemas comercialmente importantes como os onde se pesca é difícil de prever, acrescenta ele. "Existem muitos mecanismos complicados envolvidos que precisamos de compreender melhor para poder fazer previsões para o futuro. Os nossos resultados são apenas um início para que possamos, um dia, dizer que alterações em biogeoquímica, biologia e pescas podemos esperar."

Qualquer efeitos sobre as pescas devem ser indirectos, porque estas zonas com baixo teor de oxigénio estão longe das águas costeiras onde ocorre a maioria da pesca comercial, sugere Andrew Solow, director do Marine Policy Center do Woods Hole Oceanographic Institution de Massachusetts. "Não sei de muitas práticas de pesca a decorrer entre os 300 e os 700 metros no oceano tropical."

Estes desertos subaquáticos não devem ser confundidos com as 'zonas mortas' criadas nas águas costeiras, a mais famosa delas localizada no Golfo do México, pelas escorrências de fertilizantes ricos em azoto, acrescenta Solow. As águas costeiras perdem o seu oxigénio em resultado de explosões de crescimento de fitoplâncton, que, ao morrer, fornecem alimento a bactérias que absorvem todo o oxigénio. Este processo é conhecido por eutrofização.

"É um tendência muito preocupante", comenta Laurence Mee, director do Marine Institute da Universidade de Plymouth, Reino Unido. "É mais uma peça na argumentação de que é preciso fazer algo acerca das alterações climáticas."

Mee concorda que é bastante difícil dizer se, ou quanto, o declínio de oxigénio vai afectar os ecossistemas, incluindo os importantes economicamente. Se as zonas de baixo teor de oxigénio se estenderem para mais perto da superfície, podem atingir as águas baixas e banhadas pelo Sol, onde muitas espécies valiosas vivem. "Quando se começa a perturbar a cadeia alimentar, surgem muitos efeitos dominó de que ainda não nos apercebemos."

Gregory Johnson, membro da equipa de investigadores e da National Oceanic and Atmospheric Administration de Seattle, diz que a equipa tenciona realizar mais medições, para perceber se as zonas de baixo teor de oxigénio se estão a expandir pelos oceanos ou se se estão a expandir para cima e para baixo na coluna de água.

Fonte: Simbiotica

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