A última salva foi disparada numa rancorosa batalha sobre a causa dos abruptos declínios dos mamíferos marinhos do norte do Pacífico.
Já em 2003, Alan Springer, da Universidade do Alasca, Fairbanks, tinha proposto que a caça à baleia comercial tinha forçado as orcas (que se alimentavam de baleias) a mudar para outro tipo de presas. Isto, argumentava ele, desencadeou um colapso sequencial da megafauna, pois as orcas primeiro devoraram as focas vitulinas, depois passaram para as focas peludas, para os leões marinhos de Steller e finalmente para as lontras marinhas.
Esta teoria criou grande controvérsia, em parte porque ia fortemente contra o pressuposto anterior de que o declínio dos stocks pesqueiros eram os responsáveis pela situação, levando a restrições à pesca na região.
Outros dizem que há poucas evidências que as orcas alguma vez tivessem dependido das grandes baleias como base da sua dieta. “Pessoalmente eu não acredito que os dados apoiem a hipótese de que as grandes baleias eram presa principal das orcas", diz Douglas DeMaster, perito em mamíferos marinhos da National Oceanic and Atmospheric Administration (NOAA) de Seattle, Washington.
DeMaster, e outros, também diz que os declínios em mamíferos marinhos não foram sequenciais. "Não digo que foram exactamente simultâneos mas para mim é claro que foram concomitantes", diz O investigador da NOAA Paul Wade. Por isso, não eliminam a hipótese de a falta de peixe ser a causa do declínio.
No início deste ano, DeMaster publicou um artigo onde descreve causas antropogénicas, principalmente capturas secundárias da pesca comercial e a caça legal e ilegal, responsáveis pelo declínio do número de leões marinhos de Steller.
Dados históricos completos para o declínio destas espécies simplesmente não existem, admitem ambos os lados, o que força os investigadores a usar informações incompletas. Diferentes abordagens estatísticas parecem fornecer respostas diferentes sobre se os mamíferos marinhos caíram um após outro ou ao mesmo tempo.
"Não tomo partido neste debate", diz Ian Boyd, um perito em mamíferos marinhos na Universidade de St Andrews. "O que ambos os lados precisam de fazer é sentar-se e chegar a um consenso acerca dos dados que devem ser analisados para que se possa decidir entre as hipóteses. Com a agrimónia actual é que não se vai a lado nenhum."
O último trabalho de Springer fornece uma ideia do que fazer a seguir, o que é bom, diz DeMaster. Salienta que como a população de baleias cinzentas deve recuperar por não haver caça à baleia, as orcas podem voltar a preferi-las às focas, o que apoiaria a hipótese de Springer.
Entretanto, a Acta das Espécies Ameaçadas dos Estados Unidos diz que a NOAA deve continuar a ter uma abordagem cautelosa, agindo de forma a restringir a pesca, mesmo que esta não de certeza a culpada pelo declínio dos mamíferos marinhos, diz DeMaster.
“Passaram mais de quatro anos desde que esta teoria foi publicada e ficámos espantados e desolados com a forma como ela polarizou um segmento da investigação e gestão das comunidades da zona", dizem Springer e os seus colegas num novo artigo. “Muito do que foi escrito até à data foi acusatório, não se tentando encontrar terreno comum ou uma forma de avançar em direcção a uma melhor compreensão da situação."
Os mamíferos marinhos sofreram um declínio abrupto no Pacífico norte. No intervalo 1970 a 2000, o número de leões marinhos de Steller na região reduziu-se em 80%, de acordo com o National Research Council americano. Declínios semelhantes foram registados nas focas vitulinas, peludas e lontras marinhas.
Enquanto muitos culpam factores múltiplos, incluindo o declínio dos stocks de peixe e caça, Springer aponta algumas evidências que não encaixam nesta teoria. As presas dos leões marinhos eram abundantes em muitas áreas onde eles estavam em declínio e as aves marinhas que se alimentam das mesmas espécies parecem estar bem.
A análise de Springer também mostrou que as populações de mamíferos tinham entrado em declínio de forma sequencial, com o número de focas vitulinas a cair no final da década de 70, os leões marinhos no final da década de 80 e as lontras marinhas no início da década de 90. Um declínio simultâneo seria de esperar se todos estes mamíferos fossem afectados pela mesma falta de alimento.
Para Springer, a predação parecia um culpado mais provável. Ele salienta que entre 1949 e 1969 os baleeiros capturaram mais de 62 mil baleias no Pacífico norte. Para os cerca de 10% de orcas que se alimentam de mamíferos em vez de peixe, o prato fico vazio. Springer propôs que este facto as teria levado a mudar de presa, de baleias para uma dieta à base de saborosas focas.
Fonte: Simbiotica
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