segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Papel plantável


Depois de usada, folha germinável pode se transformar em grama, flores e temperos

Inara Chayamiti

Uma solução ecológica e criativa para que o papel usado não vire lixo é plantá-lo. Existem mais de 40 variedades de papéis germináveis, feitos com vários tipos de sementes, que se transformam em grama, flores e temperos e podem ser comprados pela internet. No Brasil, a oficina de papel reciclado do Projeto Tear foi uma das pioneiras na fabricação do produto. Desde março, comercializa um papel composto por sementes de grama São Carlos, que é 100% ecológico, pois, além de reciclado, não passa por nenhum processo químico. O grupo está testando sementes de salsinha, de flores e até de árvores para a confecção de suas folhas.

TUDO SE TRANSFORMA
A folha usada não vai para o lixo, mas para debaixo da terra
ENTERRE>>>Mas sem exageros. Coloque uma fina camada de terra, em média, 0,5 cm. De preferência, terra preta
HIDRATE>>>Regue diariamente
COMEMORE>>>Após 10 ou 15 dias, a grama brota. Mas o papel continua em decomposição, processo que dura 3 meses

O papel germinável, que tem o mesmo custo do reciclado (R$ 0,90 o tamanho A4), não substitui o industrial, mas vende bem em seu mercado específico (embalagens e cartões diferenciados, por exemplo). Sua maior vantagem é a sustentabilidade. Quando comparado ao industrial, reduz o consumo de energia em até 70%, a poluição da água em 35% ou mais e requer 55% menos água durante a fabricação, segundo Rick Meis, engenheiro bioquímico da Universidade do Colorado. Parece uma boa saída diante dos 15,2 trilhões de páginas impressas no mundo todo em 2006. Número que ainda deve crescer 30% nos próximos 30 anos, estima a empresa de dados e análise do mercado de impressão Lyra Research.

OUTRAS INOVAÇÕES
PAPEL DE COCÔ DE ELEFANTE PAPEL APAGÁVEL
A primeira pergunta que fazem à empresa canadense The Great Elephant Poo Poo Paper é se o papel que ela produz fede. A resposta é não. Eles esperam o excremento secar, lavam bem, deixando só as fibras que o elefante não digere. Um cocô médio pode virar até 10 folhas abertas de jornal. O produto está no mercado desde 2002 e é vendido em 16 países O mais novo gadget dos espiões pode ser o papel apagável, da Xerox, que se auto-apaga em 24 horas e pode ser reutilizado até 100 vezes. É composto por moléculas especiais que mudam de forma quando expostas aos raios ultravioleta emitidos pela impressora. Com o passar do tempo e a mudança de temperatura, elas voltam ao estado inicial. Ainda não há previsão de quando chegará ao mercado
Fonte: Revista Galileu

Video mostrando como se faz papel

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Ancestrais dos humanos nasciam com cérebros grandes

H erectus nasciam maiores do que antes se pensavaUm novo fóssil de Homo erectus sugere que as fêmeas tinham pélvis grandes e largas para que pudessem dar à luz bebés de cérebros grandes.

Nascer com um cérebro grande significa que os nossos ancestrais se tornavam independentes bem mais depressa que as crianças humanas actuais.

A nova descoberta, publicada na revista Science, entra em conflito com ideias anteriores que sugerem que estes ancestrais do Homem tinham uma forma corporal alta e delgada, adaptada à corrida.

O Homo erectus é considerado o primeiro hominídeo a sair de África e a colonizar o mundo e provavelmente também terá sido a primeira a controlar o fogo.

A pélvis feminina praticamente intacta com 1,4 milhões de anos foi encontrada perto de Gona no norte da Etiópia. À medida que ia sendo reconstruída, os arqueólogos ficaram espantados com a sua largura invulgar.

Scott Simpson, paleontólogo da Universidade Case Western Reserve de Cleveland, Ohio, foi um dos investigadores que fez a descoberta: "Proporcionalmente as ancas dela eram mais largas que as das mulheres modernas."

comparação da pélvis humana actual e ancestrais (S.Simpson Case Western Reserve University)

Os primeiros hominídeos, como o Australopithicus afarensis com três milhões de anos de idade, tornado famoso pelo esqueleto de "Lucy" encontrado em 1974, têm uma abertura pélvica muito mais estreita. Comparativamente, os hominídeos mais recentes encontrados na China, Israel e Espanha têm pélvis mais largas.

Os investigadores dizem que a pélvis mais larga significa que o H. erectus era capaz de dar à luz bebés até 30% maiores do que até aqui se pensava.

Ter um cérebro maior significa que o jovem hominídeo era dependente da mãe durante menos tempo do que um bebé moderno, uma adaptação de sobrevivência muito útil na savana africana em que viviam.


Os investigadores dizem que o cérebro do H. erectus provavelmente crescia mais rapidamente antes do nascimento mas após o parto a taxa de crescimento abrandava para algo entre a dos humanos modernos e a dos chimpanzés.

Ainda assim, Simpson salienta que o H. erectus era muito mais humano que chimpanzé: "O Homo erectus foi a primeira espécie de hominídeo a deixar África, eram tecnologicamente sofisticados com ferramentas de pedra e caçavam animais. Muitos dos comportamentos que consideramos únicos dos humanos modernos já estavam presentes no Homo erectus."

A nova descoberta lança dúvidas sobre a correcção das teorias anteriores acerca do Homo erectus.

O achado mais importante de H. erectus é o "rapaz de Turkana", um jovem macho descoberto no Quénia em 1984 . O seu esqueleto reconstruído, com uma pélvis estreita e corpo alto e magro, foi interpretado como revelando uma adaptação ao clima quente e à necessidade de correr longas distâncias.

Em comparação, esta nova descoberta é de uma fêmea mais baixa e com uma caixa torácica mais larga, uma característica vulgarmente encontrada em humanos de climas frios ou mesmo árcticos.

A pélvis larga sugere que o canal de parto e o tamanho do cérebro estavam a sofrer uma evolução conjunta, à medida que o H. erectus se adaptava à necessidade de dar à luz bebés maiores em vez de se adaptar à pressão de factores ambientais externos.


Fonte: Simbiotica

Saber mais:

Como as mulheres até se dobram para trás pelos seus bebés

Fósseis gémeos originam reviravolta na história da evolução humana

Evolução humana continua activa

Homens de Neanderthal eram adultos aos 15 anos

De cair o queixo - nova teoria da evolução humana

Plantas estabelecem relações para preservar biodiversidade, diz estudo


As plantas estabelecem entre si uma série de relações que as ajudam a preservar a biodiversidade e não extinguir-se, segundo um estudo científico realizado em regiões zonas desérticas do México.

Estas relações, denominadas "facilitação" e que se criam entre múltiplas espécies, beneficiam pelo menos um dos participantes, enquanto o outro não sofre dano, segundo o estudo, desenvolvido por Miguel Verdú, do Centro Superior de Pesquisas Científicas (CSIC), e Alfonso Valiente-Banuet, da Universidade Nacional Autônoma do México.

Este mecanismo permitiu a plantas muito antigas sobreviver em um clima árido atual e faz com que se mantenha a biodiversidade perante a mudança climática, porque, sem esta facilitação, as espécies mais antigas não são capazes de se adaptar às novas condições.

Este trabalho, recentemente publicado pela revista "American Naturalist", permitirá "conhecer melhor os mecanismos que desencadeiam a extinção local de espécies", explicou Verdú em comunicado.

"Poderemos analisar como se comporta uma comunidade perante a presença de uma planta invasora, planejar o repovoamento de um terreno ou prever o impacto que teria a extração em massa de uma determinada espécie", acrescentou.

Segundo a investigação, observou-se que estas plantas não se associam ao acaso, mas em função "de se estão ou não próximas filogeneticamente", já que, quanto menos parecidas são suas necessidades, mais possibilidades há de que ocorra a "facilitação". (Fonte: Yahoo!)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Relatório denuncia impactos da produção de cana-de-açúcar na Amazônia

Os biocombustíveis causam enormes impactos ambientais e sociais em todo o seu processo produtivo, além de causar mais dano ao meio ambiente do que os combustíveis fósseis, de acordo com o relatório "Os impactos da produção de cana no Cerrado e Amazônia", produzido pela Comissão Pastoral da Terra (CPT) e a Rede Social de Justiça e Direitos Humanos.

O estudo analisa os impactos da produção da cana-de-açúcar e do biodiesel no país, com foco no bioma Amazônia, além do Cerrado, e faz um estudo de caso de alguns estados produtores.

A partir de dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o relatório contesta o argumento de que não existe produção de cana-de-açúcar na Amazônia. A Conab registrou um "aumento na produção de cana na Amazônia de 17,6 milhões para 19,3 milhões de toneladas entre 2007 e 2008". A região norte registrou os maiores índices de crescimento da produção de cana-de-açúcar do país. Juntos, Tocantins, Amazonas e Pará tiveram um aumento de 46,8% em relação à safra anterior, atingindo a marca de 1,6 milhão de toneladas.

O problema é que o carbono da destruição das florestas não será recuperado pelo plantio de cana-de-açúcar. Além disso, a substituição da floresta amazônica para a produção de biocombustíveis compromete a biodiversidade. O relatório também critica os projetos de zoneamento ecológico econômico. "O zoneamento proposto pelo governo na Amazônia não somente permitirá, mas também incentivará o plantio de cana-de-açúcar".

Cana na Amazônia

O relatório analisa os estados que produzem biocombustível e os impactos que essa produção causa. No Acre, a usina Álcool Verde compromete os recursos hídricos e coloca em risco os sítios arqueológicos conhecidos como Geoglifos. Além disso, a usina é financiada com recursos públicos.

No Amazonas, a Usina Jayoro, propriedade do grupo Coca-cola, destruiu cerca de 10 mil hectares de florestas para poder plantar cana-de-açúcar. "Outro problema é o uso de agrotóxicos e o vinhoto, que têm seus resíduos depositados nas lagoas e igarapés, chegando até o rio que é usado para banho pela população local".

No Mato Grosso, existem atualmente onze usinas de cana-de-açúcar em funcionamento, e cinco projetos de novas usinas, que causam impacto na Amazônia, no Cerrado e Pantanal. Os insumos químicos poluem os rios e causam danos à saúde dos trabalhadores. Além disso, há graves denúncias de violações de direitos trabalhistas nas usinas da região.

Em relação ao Pará, o relatório cita um estudo da Universidade de São Paulo (USP) que indica que o estado já está sendo apontado como o que tem a maior vocação para a expansão da cana-de-açúcar do país. "O Pará poderia dispor de 9 milhões de hectares para produção de cana, o que significaria um aumento de 136% na produção de etanol no Brasil". Além do desmatamento, o estado apresenta um grave problema, a incidência de trabalho escravo.

O Tocantins, região de transição para o bioma Amazônia, teve um aumento de 16% na produção entre 2007 e 2008. A expansão resultou no aumento do preço da terra, gerando conflitos fundiários e intensificou os conflitos pelo controle da água, devido à prática de irrigação no rio Santo Antônio. Existem também três projetos de etanol em Rondônia e dois em Roraima, todos contanto com apoio ou subsídios dos governos estaduais ou federal.

Efeitos no clima

De acordo com o estudo, os efeitos positivos dos biocombustíveis no clima - por substituir as emissões de gases de efeito estufa provenientes de combustíveis derivados do petróleo - são superestimados. "O problema de muitas pesquisas realizadas anteriormente foi excluir os impactos ambientais do modelo de produção, de utilização de recursos naturais (como terra e água) e da pressão sobre áreas de preservação ou de produção de alimentos".

O estudo defende que os impactos devem ser avaliados a partir de todo o ciclo da expansão dos biocombustíveis, considerando o a mudança do solo e o cultivo extensivo de monoculturas.

O relatório aborda uma pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Tropicais Smithsonian, que procura avaliar esses impactos. Segundo esse estudo, "o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar e o biodiesel feito a partir da soja causam mais danos ao meio ambiente do que os combustíveis fósseis".

Lançamento

O lançamento do relatório será na próxima terça-feira (18), às 9 horas, em São Paulo, durante o seminário internacional "Agrocombustíveis como obstáculo à construção da soberania alimentar e energética". A publicação será debatida e fará parte das análises no seminário, promovido pela Via Campesina entre os dias 17 e 19.

Data: 15/11/2008
Local: São Paulo - SP
Fonte: Amazonia.org.br
Link: http://www.amazonia.org.br

A farra dos agrotóxicos liberada no Brasil


O Brasil, definitivamente, não é um país sério. Leitores enviaram e-mails a AmbienteBrasil externando, com razão, sua revolta quanto ao fato de a Justiça ter impedido a Agência Nacional de Vigilância Sanitária de analisar agrotóxicos largamente utilizados em nosso território.

Conforme notícia do jornal O Globo do dia 9 passado, a Anvisa vem tentando, desde o início do ano, submeter à análise de seus técnicos doze produtos que são base para fabricação de mais de uma centena de agrotóxicos no país.

"Utilizados em lavouras de soja, arroz, milho, feijão, trigo, maçã, laranja e dezenas de outras frutas, verduras e legumes, os agrotóxicos são produzidos a partir de ingredientes ativos banidos e proibidos na União Européia, nos Estados Unidos, no Japão e na China", diz a reportagem.

Mas com pareceres favoráveis do Ministério da Agricultura, empresas brasileiras produtoras de agrotóxicos e multinacionais conseguiram na Justiça impedir o exame dos fiscais da Anvisa.

As ações judiciais foram movidas por empresas e pelo Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (Sindag), que reúne fabricantes nacionais e estrangeiros. Com base nas liminares, a indústria do agrotóxico no Brasil continua importando e estocando esses produtos.

E que se dane a saúde dos consumidores. O que vale é o dinheiro continuar entrando.

Fonte: www.ambientebrasil.com.br

O que acontece quando você toma uma latinha de refrigerante?

Primeiros 10 minutos
10 colheres de chá de açúcar batem no seu corpo, 100% do recomendado diariamente. Você não vomita imediatamente pelo doce extremo, porque o ácido fosfórico corta o gosto.
20 minutos
O nível de açúcar em seu sangue estoura, forçando um jorro de insulina. O fígado responde transformando todo o açúcar que recebe em gordura(É muito para este momento em particular).
40 minutos
A absorção de cafeína está completa. Suas pupilas dilatam, a pressão sanguínea sobe, o fígado responde bombeando mais açúcar na corrente. Os receptores de adenosina no cérebro são bloqueados para evitar tonteiras.
45 minutos
O corpo aumenta a produção de dopamina, estimulando os centros de prazer do corpo. (Fisicamente, funciona como com a heroína).
50 minutos
O ácido fosfórico empurra cálcio, magnésio e zinco para o intestino grosso, aumentando o metabolismo. As altas doses de açúcar e outros adoçantes aumentam a excreção de cálcio na urina.
60 minutos
As propriedades diuréticas da cafeína entram em ação. Você urina. Agora é garantido que porá para fora cálcio, magnésio e zinco, os quais seus ossos precisariam. Conforme a onda abaixa você sofrerá um choque de açúcar. Ficará irritadiço. Você já terá posto para fora tudo que estava no refrigerante, mas não sem antes ter posto para fora, junto, coisas das quais farão falta ao seu organismo.
Pense nisso antes de beber refrigerantes. Se não puder evitá-los, modere sua ingestão! Prefira sucos naturais. Seu corpo agradece!

sábado, 15 de novembro de 2008

Grande nuvem asiática de poluição disfarça aquecimento, diz ONU



Por Emma Graham-Harrison

PEQUIM (Reuters)

Uma nuvem de 3 quilômetros de espessura formada de fuligem marrom e outros poluentes está escurecendo cidades da Ásia, matando milhares de pessoas e prejudicando a produção agrícola, mas estaria protegendo a região dos piores efeitos das mudanças climáticas, afirmou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta quinta-feira (13).

A imensa coluna de fumaça formada por dejetos de fábricas, incêndios, carros e desmatamento contém algumas partículas que refletem a luz do Sol para longe da Terra, diminuindo o aquecimento do planeta.

"Uma das consequências da nuvem marrom atmosférica tem sido mascarar a natureza real do aquecimento global em nosso planeta", disse Achim Steiner, chefe do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. As declarações foram dadas no lançamento, em Pequim, de um novo relatório sobre o fenômeno.

O montante de luz solar que chega à Terra atravessando essa nuvem caiu em até um quarto nas áreas mais afetadas e, se o véu marrom dispersar-se, as temperaturas globais podem subir até 2 graus Celsius.

No entanto, o efeito derradeiro de brecar as mudanças climáticas não representa o lado positivo de um fenômeno prejudicial.

A sufocante nuvem de poluentes pode controlar a temperatura, mas a mistura de partículas significa que a poluição está acelerando o aquecimento em algumas das áreas mais vulneráveis e intensificando as conseqüências mais devastadoras do aumento de calor.

O complexo impacto da nuvem, que tende a esfriar áreas próximas da superfície da Terra e aquecer o ar em altitudes elevadas, estaria provocando o encurtamento da temporada de monções na Índia e intensificando as enchentes ali e no sul da China.

A fuligem presente na nuvem também se deposita nas geleiras, um dos temas que mais preocupam ambientalistas e políticos, porque elas alimentam os maiores rios da Ásia e fornecem água potável para bilhões de pessoas que vivem ao longo deles.

Depositadas ali, as partículas capturam mais calor solar do que a neve e o gelo, brancos e refletores - acelerando o derretimento dessa importante fonte de água. Em uma estação de monitoramento instalada perto do monte Everest, a fuligem foi encontrada em concentrações previstas para ocorrerem apenas em áreas urbanas.

Há ainda um custo em vidas humanas. O relatório calcula que cerca de 340 mil pessoas estão morrendo prematuramente em virtude de problemas nos pulmões e no coração e devido a uma probabilidade maior de desenvolver algum tipo de câncer.

Cidades mais escuras, safras menores? - Os cientistas ainda estudam o impacto do fenômeno sobre a produção agrícola. De toda forma, entre os problemas esperados conta-se uma diminuição das safras devido a haver menos energia para a fotossíntese e por causa das maiores concentrações de ozônio.

Pode também haver danos provocados por partículas ácidas e tóxicas presentes na nuvem e que se depositariam sobre as plantas. E mudanças mais drásticas nos padrões climáticos poderiam secar ou inundar áreas de cultivo.

"O surgimento do problema da nuvem atmosférica marrom deve agravar ainda mais a recente e dramática escalada do preço dos alimentos e a dificuldade de sobrevivência entre as populações mais vulneráveis do mundo", disse o relatório.

Como consolo, no entanto, cita-se o fato de, se o mundo parar de emitir as partículas responsáveis pela formação da nuvem, o fenômeno desapareceria dentro de algumas semanas, ao contrário de muitos dos resistentes gases do efeito estufa.

Os ingredientes da nuvem não divergem muitos daqueles encontrados na fumaça que envolve muitas das grandes cidades do planeta, em particular as dos países em desenvolvimento.

No entanto, os cientistas perceberam que essa poluição localizada é um problema global devido à forma como se acumula e se dissemina.

"Costumávamos pensar na nuvem marrom como um problema urbano de escala regional. Agora sabemos que o fenômeno estende-se verticalmente por 3 ou 4 quilômetros e espalha-se", disse o professor Veerabhadran Ramanathan, chefe do painel de cientistas da ONU que está realizando a pesquisa.

Há nuvens marrons semelhantes sobre partes da Europa, da América do Norte, da África e da bacia Amazônica. Os cientistas, no entanto, concentraram-se por enquanto na nuvem asiática, que se estende da península Arábica ao oceano Pacífico.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aumento do nível do mar: Maldivas sem território

Aumento do nível do mar leva Maldivas a procurar território
O presidente eleito da República das Maldivas, Mohamed Nasheed, anunciou planos para comprar um novo território para o seu povo.

Ele está tão preocupado com o aumento do nível do mar causado pelo aquecimento global que acredita que os habitantes das ilhas que formam o país podem acabar tendo que se estabelecer em outros países.

Com suas praias de areias brancas, palmeiras e mais de mil ilhas e atóis de coral banhados pelas águas do Oceano Índico, as Maldivas, um ex-protetorado britânico, parecem um paraíso.

Mas seu território está encolhendo a cada ano. No último século, o nível do mar em partes do arquipélago subiu quase 20 centímetros.

As Maldivas são a nação com a costa mais próxima ao nível do mar no mundo - seu relevo mais alto fica dois metros acima do nível do mar.

A Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que o nível do mar pode subir globalmente até quase 60 centímetros este século.

Nasheed teme que até uma elevação pequena possa levar à inundação de algumas ilhas. "Nós não podemos fazer nada para impedir as mudanças climáticas sozinhos, então temos que comprar terra em outro lugar. É uma apólice de seguros para o pior quadro possível", afirmou.

O turismo traz milhões de dólares para o país anualmente. O plano do presidente eleito é criar o que ele qualifica como um "fundo soberano" - aplicação de parte das reservas internacionais em investimentos de maior risco e retorno - gerado pela "importação de turistas" da forma como os países árabes fizeram com a exportação de petróleo. "O Kuwait investiu em empresas, nós vamos investir em terras", afirmou.

Nasheed procura um lugar próximo com cultura, culinária e clima semelhantes - possivelmente na Índia ou Sri Lanka. Mas a Austrália também está sendo levada em conta por causa das dimensões de territórios não ocupados. Ele teme que, se não tomar medidas prevendo o futuro, os descendentes dos 300 mil habitantes das ilhas Maldivas podem se tornar refugiados ambientais.

"Nós não queremos deixar as Maldivas, mas não queremos ser refugiados vivendo em tendas por décadas", concluiu Nasheed. 


Fonte: G1

sábado, 8 de novembro de 2008

Como um peixe fora de água salgada


Um peixe marinho que parece estar à beira de se adaptar à vida em água doce está a lançar luz sobre a forma como algumas espécies conseguiram fazer essa transição evolutiva no passado.

Ao contrário do salmão e de algumas trutas, que conseguem sobreviver tanto em rios como no mar, a maioria dos peixes apenas consegue viver num desses ambientes.

Mas pescadores do Maine começaram a descobrir um peixe marinho conhecido como peixe-escorpião Myoxocephalus octodecimspinosus em estuários, levando Kelly Hyndman e David Evans, zoólogos da Universidade da Florida em Gainesville, a decidir analisar melhor a situação.

Colocaram os peixes em aquários contendo diferentes concentrações de água salgada e, após 24 e 72 horas, mediram as concentrações de sódio, potássio e cloro no sangue, bem como os níveis de três proteínas nas guelras que ajudam a regular a presença desses iões. As três proteínas são a Na+/K+-ATPase, uma cotransportadora de sódio, potássio e cloro e reguladora da condutância transmembranar da fibrose quística, vulgarmente conhecida por bomba sódio-potássio.

A equipa relata na última edição da revista Experimental Zoology que mesmo em água doce, o peixe-escorpião produzia a mesma quantidade das três proteínas que produzia em água salgada. A incapacidade do peixe de regular o número destas proteínas torna mais difícil a sua sobrevivência em água doce a longo prazo.

"Tanto quanto sabemos esta é a primeira vez que a barreira fisiológica que impede os peixes marinhos de entrar em água doce foi identificada", diz Hyndman.

Mas estranhamente, a análise das amostras de sangue revelou que ainda que o peixe numa mistura de 10% de água do mar e 90% de água doce estivesse a perder estes iões para a água salobra, aqueles que estavam em concentrações de água salgada de 20% ou mais, já não tinham esse problema e podiam ter sobrevivido indefinidamente.

A osmolaridade, a concentração de iões como o potássio, sódio e cloro, da água salgada a 20% em que os peixes foram imersos era de 190 milimoles, ou apenas 56% da do seu sangue (340 milimoles). A diferença devia significar que os sais saíam do peixe, levando à sua morte. "Ficámos espantados com o facto de o peixe ser capaz de manter uma osmolaridade do sangue constante nestas condições", diz Hyndman.

A equipa sugere que existem outras proteínas que trazem iões para dentro do corpo de forma a compensar o fluxo de saída e que os seus rins também devem impedir a perda de iões.

O peixe-escorpião deve estar à beira de passar para água doce, à medida que as pressões selectivas, como os predadores de água salgada, o empurram para aí. Tal como os peixes marinhos devem ter originado novas espécies de água doce, essas devem ter começado por se deslocar para os estuários salobros. 

"Acho que apanhámos uma espécie nos primeiros passos de inventar, por evolução, uma melhor forma de se adaptar à água doce", diz o biólogo William Marshall, da Universidade St Francis Xavier em Antigonish, Canadá, que não esteve envolvido no trabalho.

Os salmões e a truta, apesar de serem capazes de sobreviver em água doce e salgada, não devem ser bons modelos fisiológicos dos peixes que fizeram a transição definitva, diz ele.

"As espécies estuarinas são oportunistas, muitas espécies conseguem tolerar água salobra mas fazem-no através de mecanismos fisiológicos pouco convencionais", diz Marshall. "Apesar de ser muito ineficiente sobreviver em água salobra bombeando activamente (como o peixe-escorpião parece fazer), ainda parece beneficiar a espécie se o local tiver menos predadores." 


Fonte: Simbiotica


 

Saber mais:

David Evans

Ciclo de monções asiático perturbado por alterações climáticas de origem humana


Uma estalagmite com 1800 anos retirada de uma gruta chinesa revelou que, no passado, anos mais quentes estiveram associados a monções asiáticas mais fortes.

Essa situação foi verdade até há apenas 50 anos, quando a relação se quebrou devido às emissões de gases de efeito de estufa e à poluição de origem humana.

Os investigadores também sugerem que as monções mais fracas podem ter conduzido ao desaparecimento de algumas dinastias chinesas, quando a falta de água e as colheitas fracas desencadearam revoluções.

Há medida que a monção avança, o vapor de água contendo o isótopo pesado de oxigénio 18O tem maior probabilidade de condensar e cair sob a forma de chuva. Logo, quanto mais forte a monção, menos 18O as nuvens contêm e menor a razão 18O/16O. 

As estalagmites registam esta situação pois formam-se a partir de minerais dissolvidos e de água da chuva que pinga de fendas nas grutas. Os cientistas também conseguem datar as monções medindo o decaimento do urânio-234 em tório-230 nas estalagmites.

Em Maio de 2003, Zhang Pingzhong, geólogo da Universidade de Lanzhou na província de Gansu, recolheu uma estalagmite com 11,8 cm da gruta de Wanxiang, localizada entre os planaltos tibetano e Loess, uma região dominada pelas monções do sudeste asiático.

"A amostra é espantosa", entusiasma-se Zhang. "Estava a crescer continuamente desde 190 a.C. e continha uma concentração de urânio invulgarmente alta e poucas contaminações." Isto permitiu à equipa de investigadores fazer medições mais detalhadas da precipitação e da data das monções de forma muito mais rigorosa do que estudos anteriores, com uma margem de erro de décadas e não de séculos.

Escrevendo na revista Science, os investigadores mostram que a intensidade das monções oscilou ao longo dos últimos dois milénios, com as monções mais fortes a acompanhar os anos mais quentes, como determinado pela actividade solar e por registos de temperaturas obtidos, por exemplo, dos anéis das árvores.

"No entanto, esta correlação parou por volta da década de 60", explica Zhang. "Isto pode sugerir que o aumento dos níveis de gases de efeito de estufa e dos aerossóis atmosféricos causados pelas actividades humanas estão a tornar as monções mais fracas."

 maior emissor de gases de efeito de estufa com um quinto da população mundial, a China tem razão para se preocupar, acrescenta Zhang. "O governo deve pensar cuidadosamente sobre a forma de utilizar correctamente os recursos aquíferos e em tentar restaurar o ritmo natural das monções reduzindo a poluição."

"Esta situação é preocupante dada a escassez de água da China", diz Hai Cheng, geólogo na Universidade do Minnesota em Minneapolis e co-autor do artigo. Mas há mais razões para preocupação: o estudo mostra que as dinastias Tang, Yuan e Ming entraram em colapso durante os períodos de monções fracas, concluindo que o clima "desempenhou um papel crucial" nestes capítulos da história chinesa.

Mas Zhang De'er, cientista-chefe do Centro Nacional do Clima de Pequim, não está convencida. "O clima é apenas um dos muitos factores que determinam a ascensão e a queda das dinastias", diz ela, salientando que a intensidade da monção e a seca durante o final da dinastia Tang medidas no estudo não é consistente com os registos de clima chineses. Para além disso, o estudo também mostra que houve menos chuva durante os períodos altos das dinastias Song e Ming.

Jonathan Overpeck, director do Laboratório de Estudos Ambientais da Universidade do Arizona em Tucson, acredita que o dados devem ser comparados com outras provas paleoclimáticas e, mais importante, com os registos históricos, que mostram uma imagem mais complexa da evolução social. "Duvido que o clima seja o motor primário das sociedades humanas mas seria complicado estabelecer esta ligação tão forte com base apenas num tipo de evidência."

O estudo tem, no entanto, uma importante para o futuro, diz Overpeck. "Em todo mundo estamos a contar cm reservas de água que não são certas no futuro e corremos o risco de ultrapassar a capacidade do ambiente."


Fonte: Simbiotica


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Poluição asiática tem impacto a nível global

Terá uma seca a nível mundial dizimado culturas antigas?

Monções indianas podem desaparecer

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Descoberta traça vampira


Uma população até agora desconhecida de traças vampiras foi descoberta na Sibéria e, de acordo com os entomólogos, terá evoluído a partir de uma espécie que se alimentava de fruta.

Apenas ligeiras variações de padrão de asa distinguem a população russa de uma traça comum na Europa central e do sul,Calyptra thalictri, que apenas se alimenta de fruta.

Quando pousadas nas mãos dos investigadores, as traças russas perfuraram a pele com as suas línguas armadas com ganchos e bárbulas para sugar sangue.

A entomóloga Jennifer Zaspel, da Universidade da Florida em Gainesville, refere que a descoberta sugere que a população de traças pode estar numa "trajectória evolutiva" de divergência com as restantes populações de C. thalictri. Esta é a segunda população de traças vampiras que Zaspel descobriu, a primeira foi na Rússia em 2006.

No próximo Janeiro, ela tenciona comparar o DNA das populações russas com o das restantes populações e o de outras espécies para confirmar as suas suspeitas.

"Com base na geografia, comportamento e variação fenotípica dos padrões de asas, podemos especular que estas traças representam algo diferente, algo novo", diz Zaspel. "Mas é difícil dizer sem saber as diferenças genéticas entre os indivíduos dessa população, bem como entre indivíduos de outras populações, até que ponto este grupo será."

Se se confirmar que Zaspel capturou realmente uma traça da fruta em plena evolução para alimentação à base de sangue, pode fornecer pistas para a forma como algumas traças desenvolveram o gosto pelo sangue.

Alguns investigadores, salienta ela, colocaram a hipótese de que os insectos e outros animais vampiros evoluíram de animais com comportamentos como alimentar-se de lágrimas, estrume ou ferimentos infectados.

"Observamos uma progressão da alimentação com néctar para o lamber de sumos de fruta, para diferentes comportamentos perfuradores de fruta, culminando finalmente com a perfuração da pele e a alimentação de sangue", diz ela.

Chris Nice, biólogo que estuda a evolução de borboletas na Universidade Estatal do Texas em San Marcos, diz que poucas borboletas e traças estão equipadas com as línguas com ganchos e bárbulas necessárias à perfuração dos frutos. "A etapa de perfuração de fruta prepara o palco, no sentido morfológico, para outras transições, neste caso para a alimentação com sangue."

Nice acrescenta que a investigação genética como a de Zaspel é a única maneira de testar as hipóteses sobre a forma como certos comportamentos evoluem.

A próxima questão é saber porque motivo esta população russa deC. thalictri parece ter desenvolvido este comportamento, diz Zaspel.

Ela salienta que apenas os machos são vampiros, levantando a possibilidade de que, em algumas espécies de borboletas e outras traças, o façam para passar sal para as fêmeas durante a copulação.

"Não há qualquer prova de que prolongue a vida do macho ou algo parecido", diz ela. "Logo suspeitamos que provavelmente passe para a fêmea." Este presente sexual forneceria nutrientes importantes para as larvas que se alimentam de folhas, pobres em sódio. Se o sal for limitado no ambiente de alguma forma, a teoria do presente sexual "faria sentido", acrescenta Nice. 


Fonte: Simbiotica

Genes humanos têm múltiplas funções


DNAApesar de as pessoas terem frequentemente dificuldades a dominar mais que uma disciplina, os nossos genes não têm esses problemas.

Estudos mundiais da expressão génica em 15 tecidos e linhagens celulares diferentes revelaram que 94% dos genes humanos geram mais do que produto.

Os estudos, publicados online ontem nas revistasNature e Nature Genetics, usaram sequenciação de alta velocidade para gerar o retracto mais detalhado até à data de como os genes se expressam em diferentes tecidos.

Apenas cerca de 6% dos genes humanos são formados por um segmento linear único de DNA. A maioria dos genes são compostos por secções de DNA que se encontram em várias localizações ao longo de um filamento. Os dados codificados nestes fragmentos são unidos num RNA mensageiro (mRNA) funcional que pode depois ser usado como modelo para construir proteínas.

Mas os investigadores descobriram que o mesmo gene pode ser reunido de diferentes maneiras, por exemplo, deixando de fora um segmento ou incluindo um pedaço da sequência de DNA interveniente.

Este processo, designado por maturação alternativa, pode produzir moléculas de mRNA e, consequentemente, proteínas, com funções dramaticamente diferentes, apesar de serem formadas a partir do mesmo gene. O fenómeno oferece algum consolo aos desapontados com o relativamente baixo número de genes encontrados no genoma humano: com cerca de 20 mil genes, os humanos têm mais ou menos o mesmo número que o elegante mas decididamente menos complexo nemátodoCaenorhabditis elegans.

"Estávamos à espera que algo tão sofisticado, complexo e inteligente como nós próprios tivesse pelo menos 100 mil genes", diz Jacek Majewski, geneticista na Universidade McGill de Montreal, Canadá. "Sequenciamos o genoma e percebemos que tínhamos o mesmo número que o C. elegans.

Felizmente, a maturação alternativa pensa-se que só ocorra em perto de um décimo dos genes de C. elegans, restaurando a dignidade da complexidade do genoma humano. Compreender esta flexibilidade deve ajudar a revelar como os genes maturados de forma incorrecta podem desencadear doenças.

Apesar do intenso interesse na maturação alternativa, o fenómeno tem sido difícil de estudar e as técnicas laboratoriais habituais falham muitas vezes na detecção de formas maturadas raras. Anteriormente os investigadores estimavam que 74% de todos os genes humanos são maturados alternativamente mas reconheciam que esta estimativa devia aumentar com o progresso das técnicas de estudo.

Agora, dois grupos, um liderado pelo biólogo informático Christopher Burge, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts em Cambridge, e outro liderado pelo biólogo molecular Benjamin Blencowe, da Universidade de Toronto no Canadá, estudaram a maturação alternativa usando dados de sequenciação de alta velocidade gerados pela Illumina, uma companhia de biotecnologia sediada em San Diego, Califórnia.

A técnica funciona usando uma enzima para converter o mRNA novamente em DNA, que pode depois ser sequenciado. Blencowe estudou as formas maturadas encontradas em seis tecidos diferentes, incluindo cérebro, fígado, músculo e pulmão. Burge usou estas amostras para além de outras, nomeadamente linhagens de cancro da mama. Com base em mais de 400 milhões de sequências, a equipa de Burge estima que 92 a 94% de todos os genes humanos possam originar mais que uma molécula de RNA.

Especialistas no campo concordam que o trabalho é importante mas não estão particularmente surpreendidos pelos números. "O que é novo é a tecnologia, que vai ter um enorme efeito na forma como estudamos a maturação", diz Douglas Black, biólogo molecular na Universidade da Califórnia, Los Angeles.

A análise dos novos catálogos de maturação pode revelar padrões acerca da forma como o processo é regulado mas são necessários mais estudos para determinar se todas estas formas alternativas têm função. "A questão é 'São todas estas formas biologicamente relevantes?'", comenta Marie-Laure Yaspo, geneticista do Instituto Max Planck de Genética Molecular de Berlim, Alemanha. Algumas destas variantes raras de maturação podem não ser mais que ruído de fundo gerado por erros ocasionais, salienta ela.

Mas as técnicas convencionais para apagar genes inteiros não são eficazes para discernir a função de uma variante em relação a outra. "O que realmente precisa de ser feito é desenvolver métodos de alto rendimento de analisar a função destas variações de maturação", diz Blencowe. "Esse é o grande desafio." 


Fonte: SImbiotica


Saber mais:

Christopher Burge

Expressão génica é tão importante como o tipo genético



Há quatro décadas, cientistas como Jane Goodall e Toshisada Nishida iniciaram investigações inovadoras que fizeram o mundo aperceber-se de até que ponto os humanos são parecidos com o seu primo mais próximo vivo, o chimpanzé.

Agora, Goodall, Nishida e 18 outros cientistas líderes no campo vão reunir-se em San Francisco, Califórnia, para um simpósio organizado pela Fundação Leakey, que apoia e conduz investigação sobre as origens do Homem.

Goodall e Nishida vão receber cada um prémio de US$25 mil da fundação em honra do seu trabalho mas o simpósio tem como objectivo discutir os desafios chave da investigação que os primatólogos esperam encontrar nos próximos 40 anos. Os participantes revelaram à revista Nature as cinco perguntas mais importantes que deverão sair da discussão.

Por que são os primatas diferentes uns dos outros?

Os primatas têm uma miríade de estilos de vida: os gorilas vivem em grupos de muitas fêmeas e um macho dominante 'dorso prateado', por exemplo, enquanto os gibões vivem me famílias nucleares. Espécies diferentes têm temperamentos diferentes, diz Richard Wrangham, da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts. Os bonobos, os humanos e os chimpanzés, por exemplo, são fortemente aparentados mas os bonobos são famosos por usar o sexo para manter a paz, enquanto os chimpanzés fazem guerras e chegam a matar os bebés da própria espécie. "Se se está interessado na evolução humana", diz Wrangham, "ter uma verdadeira compreensão da forma como ocorreu a separação entre chimpanzés e bonobos e como conduziu a estas espécies tão contrastantes, cada uma com semelhanças com o Homem no seu comportamento, é uma questão muito entusiasmante."

Como pensam os primatas?

Os grandes símios cativos são espantosamente inteligentes: conseguem aprender linguagem gestual e usam as novas tecnologias mas outros animais também mostram sinais de inteligência, os cérebros relativamente grandes dos primatas não explicam tudo. A equipa de marido e mulher Dorothy Cheney e Robert Seyfarth, da Universidade da Pennsylvania em Filadélfia pergunta "O que é tão especial acerca dos primatas?"

Uma resposta possível é que os primatas precisam de inteligência para gerir as suas vidas sociais complexas. Os chimpanzés macho, por exemplo, trocam carne por ajuda em lutas e apoiam os aliados que os ajudaram, salienta John Mitani, da Universidade do Michigan em Ann Arbor. Mas os cientistas não compreendem realmente como é que os chimpanzés selvagens realizam e recordam estas interacções: "Sabemos muito pouco acerca dos mecanismos cognitivos usados pelos chimpanzés para ter presente quem coopera com quem e em que situações", diz Mitani.

Porque cooperam os primatas?

Quando os chimpanzés trocam carne e se juntam em bandos para lançar ataques, são motivados simplesmente pela reciprocidade ou pelo facto de de ajudar indivíduos aparentados é bom para sua própria causa genética? Ou, como Joan Silk, da Universidade da Califórnia em Los Angeles pergunta, "Outros primatas partilham as preferências humanas pela justiça, empatia e preocupação com o bem-estar dos outros?"

Estudar estas questões em primatas macho tem sido especialmente difícil pois é difícil detectar as relações de parentesco em sociedades promíscuas. Mas as técnicas de amostragem não invasivas estão a começar a ajudar. Estas técnicas estão a permitir aos cientistas estudar a paternidade em primatas: "Só recentemente podemos perguntar quem são os pais, se a descendência conhece os progenitores e se mantém alguma relação especial com eles", diz Ann Pusey, da Universidade do Minnesota em St Paul.

De onde vêm os primatas?

Ao longo dos últimos 40 anos, estudos fósseis e genéticos dos ancestrais humanos e de primatas vivos têm mostrado que o Homem evoluiu em África e é fortemente aparentado com os chimpanzés e os bonobos. Então o que levou os humanos a perder o pêlo corporal, desenvolver uma linguagem complexa e outras características consideradas evoluídas? 

Teorias abundam: precisamos de grandes cérebros porque formamos grupos sociais mais complexos ou, como sugere Lynne Isbell, da Universidade da Califórnia, Davis, especula, que desenvolvemos o nosso poder cerebral e comportamento social em conjunto com a visão binocular, aprendizagem, medo e memória como uma adaptação que nos ajuda contra as cobras venenosas. 

Os cientistas esperam combinar diferentes técnicas para desacreditar as teorias erradas. "Será interdisciplinar, envolvendo estudos moleculares, paleontológicos e comparativos para testar as várias hipóteses acerca das origens dos primatas", diz Isbell.

Que primatas ainda existirão na natureza daqui a 40 anos?

Perguntem a qualquer cientista que estuda primatas, especialmente Goodall, e ele citará esta como uma das preocupações principais do campo. Um censo em grande escala revelou, este Agosto, que metade das espécies de primatas selvagens estão em risco de desaparecer no espaço de 10 anos. "Obviamente esta questão envolve questões políticas, sociai e económicas que os primatólogos não podem resolver", salienta David Watts, da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut, "mas leva-nos a pensar que uma confluência de ideias e acções pode resolvê-los e fazemos tudo o que podemos para as promover e vê-las em acção." 


Fonte: Simbiotica


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