quinta-feira, 28 de agosto de 2008

2008 poderá ser o ano mais fresco do século até à data

Este ano parece decidido a tornar-se o mais fresco, globalmente, deste século.

Dados do Serviço de Meteorologia revelam que as temperaturas na primeira metade do ano foram mais de 0,1ºC inferiores às de qualquer outro ano desde 2000, no mesmo período de tempo.

A principal razão para esta situação é La Nina, parte do ciclo natural que também inclui o famoso El Nino, que arrefece o planeta.

Ainda assim, 2008 deverá ser o mais ou menos o décimo ano mais quente desde 1850 e os meteorologistas já avisaram que as temperaturas irão voltar a subir assim que as condições criadas pelo fenómeno La Nina abrandem.

TEMPERATURAS GLOBAIS

As temperaturas mencionadas são dadas sob a forma de variação relativamente à média do período 1961-1990:

Ano mais quente de que há registo - 1998: +0.515ºC

Ano mais frio de que há registo - 1862: -0.616ºC

Entre 2001 e 2007 as temperaturas variaram, em relação à média, entre +0.400 e +0.479ºC

Durante 2008, entre Janeiro e Junho: +0.281ºC

Dados fornecidos pelo Hadley Centre

"O fenómeno invulgar que tem acontecido este ano é o La Nina, que tem baixado as temperaturas globais em algum grau", explica John Kennedy, investigador e analista climático no Hadley Centre, Reino Unido.

"O La Nina tem vindo a desvanecer-se nos últimos meses e agora já estamos em condições neutrais no Pacífico."

Os cientistas da Organização Mundial de Meteorologia (WMO) também sugeriram que 2008 deverá ser mais frio que os últimos anos.

O fenómeno La Nina arrefece as águas do Pacífico oriental mas os seus efeitos estendem-se bem para além dessa zona do globo.

Faz parte de uma série de ciclos climáticos naturais que podem reforçar ou contrariar a tendência continuada de aquecimento global que resulta do aumento dos níveis de gases de efeito de estufa na atmosfera.






La Nina 2008 Forecast (Source: UK Met Office Hadley Centre)

La Nina significa em espanhol 'a menina' e refere-se a um extenso arrefecimento do Pacífico central e oriental.

A subida das temperaturas do mar no Pacífico ocidental significa que a atmosfera tem mais energia e a frequência de fortes chuvadas e trovoadas aumenta.

Tipicamente, La Nina pode durar até 12 meses mas geralmente causa menos danos que o evento 'irmão' mais forte, o conhecido El Nino.

No início deste ano, um grupo de investigadores sugeriu que um outro ciclo natural, a Oscilação Atlântica Multidécada, deveria manter as temperaturas mais ou menos estáveis durante a próxima década, antes de reverter o seu efeito e permitir um aquecimento renovado.

"A tendência a longo prazo é que temos que analisar", diz Kennedy.

"2008 ainda será significativamente acima da média a longo prazo. Tem ocorrido uma forte tendência de subida nas últimas décadas e é nisso que nos devemos focar."

Um dos efeitos mais notórios da subida das temperaturas tem sido a rápida perda de gelo marinho árctico no Verão, que se tem vindo a acelerar desde o ano 2000.

Já este ano se tinha mencionado que havia indicações de que em 2008 se poderiam verificar perdas de gelo ainda superiores às registadas em 2007, que quebraram todos os recordes.

Actualmente, o gelo parece estar a aguentar-se melhor do que há um ano, ainda que os cientistas estejam preocupados com a percentagem dele que é relativamente frágil e se formou num único Inverno.

As autoridades canadianas declararam recentemente que a Passagem do Noroeste é "navegável", ainda que reconheçam que algumas zonas ainda apresentem gelo flutuante.

Fonte: Simbiotica

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WMO

Bactérias kamikase ilustram a evolução da cooperação

As bactérias podem cometer suicídio para ajudar as suas descendentes a estabelecer uma infecção mais danosa, e os cientistas pensam que são capazes de explicar porque motivo este comportamento evoluiu.

O fenómeno, conhecido por cooperação autodestrutiva, pode ajudar bactérias como a Salmonella typhimurium ou a Clostridium difficile a estabelecer a sua posição no intestino.

Ao estudar ratos infectados com S. typhimurium, investigadores suíços e canadianos vieram agora demonstrar como surgiu este comportamento 'kamikaze'.

A equipa, liderada por Martin Ackermann, do ETH Zurique na Suíça, estudou a forma como S. typhimurium expressa os factores de virulência dos sistemas de secreção Tipo III (TTSS-1) que inflamam o intestino. Isto erradica a microflora intestinal que, de outra forma, competiria por recursos mas também mata a maioria das células de S. typhimurium da vizinhança. Depois deste assalto, o caminho está livre para as S. typhimurium sobreviventes tirarem partido o colonizarem ainda mais o intestino.

Mas no meio da cavidade intestinal, o lúmen, apenas cerca de 15% das S. typhimurium expressam o TTSS-1. Pelo contrário, no tecido da parede do intestino, quase todas as bactérias o expressam. À medida que mais bactérias invadem o tecido, a inflamação intestinal aumenta e mata os invasores (especialmente os que estão no tecido), juntamente com outra flora intestinal competidora.

"pensámos que isto era um fenómeno muito estranho", diz Wolf-Dietrich Hardt, também do ETH Zurique. "As bactérias do lúmen são geneticamente idênticas mas algumas estão dispostas a sacrificar-se pelo bem comum. Podíamos comparar este acto aos pilotos Kamikaze japoneses."

Esta cooperação autodestrutiva depende dos genes que controlam este comportamento suicida não serem sempre expressos. Este 'ruído fenotípico' significa que apenas uma fracção expressa o TTSS-1, permitindo aos genes kamikaze persistirem na população. Se todas as células expressassem os genes, todas se suicidavam e ninguém na população tirava partido disso.

A equipa
concluiu que os actos de cooperação autodestrutiva podem surgir desde
que o nível de "bem público", neste caso a inflamação do
intestino, seja grande o suficiente. Fundamentalmente, os indivíduos
cooperativos também devem beneficiar de outros actos cooperativos mais
frequentemente que os não cooperantes.


No caso das
bactérias intestinais, a situação pode surgir se o número mínimo de
agentes patogénicos necessários à infecção do hospedeiro for
relativamente pequeno, tão reduzido como 100 células, como no caso de Escherichia coli.


As
descobertas, publicadas na revista Nature,
vão ao encontro de teorias há muito aceites sobre a evolução do
altruísmo e da cooperação.


Se um gene
para altruísmo entre irmãos for sempre expresso terá tendência a
desaparecer, pois os indivíduos que o possuem podem sacrificar-se em
benefícios daqueles que não o fazem. No entanto, se o gene estiver
presente mas nem sempre se expressar pode persistir, pois alguns dos seus
portadores podem sobreviver para o passar às gerações seguintes.


A
investigação também pode ajudar a conceber estratégias melhores contra
bactérias patogénicas. A Salmonella
é responsável por uma das infecções bacterianas mais comuns no
ocidente e é extremamente perigosa para os mais fracos e idosos. "Não
há dúvida que é necessária uma vacina contra a Salmonella",
diz Hardt. "Para além do Homem, muitas outras estirpes da bactéria
que infectam o gado já estão a tornar-se resistentes aos
antibióticos."


"Mas
com base nos nossos resultados, eu sugeria que a estratégia habitual de
ter um factor de virulência como alvo da vacina pode não ser o melhor
caminho, se apenas uma pequena fracção das bactérias o
expressarem."

Fonte: Simbiotica


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Institute of Biogeochemistry and Pollutant Dynamics



Moléculas egoístas podem estar por trás do surgimento da vida

Uma molécula pode assegurar que as cópias de si própria, e não qualquer outro produto possível da reacção, são produzidas a partir de uma sopa de moléculas menores.

Esta situação demonstra que estruturas complexas podem ter evoluído a partir de uma sopa de moléculas simples há milhares de milhões de anos, alegam os cientistas que a desenvolveram.

Douglas Philp, químico na Universidade de St Andrews, Reino Unido, já tinha demonstrado que uma molécula formada por duas metades que se reconhecem e unem pode actuar como modelo para a sua própria replicação.

Juntamente com o seu colega Jan Sadownik, ele descobriu agora que esta molécula modelo pode conduzir a sua própria formação numa sopa maior com muitos outros reagentes, rapidamente tomando conta de todos os processos e dominando o sistema de forma que nenhum outro produto tenha hipótese de se formar.

Este tipo de sistema auto-replicativo já foi proposto como explicação para a forma como moléculas complexas como o DNA se terão formado, em última análise desencadeando a emergência da vida. Versões artificiais destes sistemas, no entanto, não têm sido conseguidas.

O sistema de Philp depende de uma sopa de 25 moléculas diferentes, construídas a partir de diversas combinações de componentes simples, como diferentes aldeídos, alguns com o radical amidopiridina, e uma maleimida. As 25 moléculas resultantes na sopa podem todas interconverter-se.

Esta mistura não tem nada de especial até que uma maleimida ligeiramente diferente seja usada. Isso permite que apenas um dos 25 produtos tenha exactamente os blocos necessários a que se torne a molécula auto-replicadora que o laboratório de Philp já tinha desenvolvido anteriormente.

Uma vez esta molécula modelo formada como um dos 25 elementos da sopa, pode recolher os seus blocos componentes da mistura e juntá-los para criar uma cópia complementar de si própria. As moléculas modelo recolhem mais dos seus componentes e o processo repete-se.

Dado que todos os componentes originais da mistura são interconvertíveis, o equilíbrio da sopa altera-se de forma a que a os reagentes alimentem a formação da molécula auto-replicável. O resultado final é que 93% da mistura se transforma na molécula modelo.

"Apesar deste sistema ser capaz de produzir sabe-se lá quantos componentes diferentes, apenas obtemos um", explica Philp. "Isto mostra como é possível obter ordem a partir do caos."

O processo funciona logo que a maleimida certa é introduzida mas pode ser acelerado acrescentando uma quantidade diminuta do modelo completo.

Philp não tem uma utilização prática para este tipo de sistema mas isso não é o importante, diz Eric Anslyn, químico supramolecular na Universidade do Texas, Austin. Demonstrar a existência de um sistema que pode ter dado origem à vida é suficiente e pode inspirar outros químicos a descobrir a sua utilidade.

Ainda assim, Philp imagina uma altura em que um sistema auto-replicante possa ser utilizado para, quando se pretender, produzir uma variedade de diferentes compostos, dependendo do modelo que se introduza no início da reacção.

"Os sistemas auto-replicantes artificiais representam um dos tópicos mais estimulantes e desafiadores da química actual", diz Fraser Stoddart, químico da Universidade Northwestern em Evanston, Illinois.

Não se sabe se o trabalho de Philp pode ajudar a explicar a origem da vida, diz Stoddart, mas "os processos da vida e a auto-replicação estão sempre juntos, como amor e casamento"

Fonte: Simbiotica

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Douglas Philp



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