sábado, 17 de maio de 2008

Ursos polares ganham classificação de "ameaçados"

Os ursos polares vão ser listados como ameaçados sob a Acta das Espécies Ameaçadas americana (ESA), anunciou relutantemente o secretário do interior.

Ainda assim, a listagem praticamente não oferece qualquer protecção acrescida aos ursos, que estão ameaçados principalmente devido à perda do gelo oceânico na zona polar.

“Quem me dera que a decisão pudesse ser outra", disse o secretário do interior Dirk Kempthorne, apelidando a ESA de “lei inflexível" que não lhe permitia considerar os potenciais danos económicos resultantes da listagem.

Em vez disso, a lei exige que a decisão seja baseada apenas na melhor ciência disponível, neste caso uma série de nove relatórios emitidos pelo US Geological Survey (USGS) em Setembro passado.

“Os nossos relatórios, bem como o restante corpo de investigação, sugerem claramente que se o gelo marinho continuar a desaparecer, o futuro do urso polar está realmente ameaçado", diz Steve Amstrup, do USGS de Anchorage, Alasca, que liderou o esforço de classificação.

Esses estudos descobriram que o gelo marinho é vital para a sobrevivência do urso polar e tem vindo a desaparecer de forma dramática nos últimos anos. Para além disso, múltiplos modelos climáticos, escolhidos pelo seu rigor na descrição da redução observada do gelo árctico, prevêem que o gelo vai continuar a recuar.

Espera-se que o gelo fino que cobre a maior parte do oceano Árctico derreta completamente este Verão, deixando o pólo norte livre de gelo, de acordo com uma projecção do Centro Nacional da Neve e Gelo dada a conhecer no início deste mês.

Ainda que Kempthorne tenha reconhecido na quarta-feira que o aquecimento global está a causar o recuo do gelo árctico e que as actividades humanas têm "algum impacto" nas alterações climáticas, ele referiu que não se pode estabelecer nenhuma ligação entre nenhuma instalação ou perfuração de gás ou petróleo e o destino do urso. “A perda de gelo marinho, não a exploração de gás ou petróleo ou qualquer actividade de subsistência, é a principal ameaça ao urso polar."

“Esta situação não deve abrir a porta à utilização da ESA para regular as emissões de gases de efeito de estufa", acrescentou ele, “esta não é a ferramenta adequada para lidar com as alterações climáticas."

A listagem vai exigir que as agências federais considerem os riscos para os ursos polares resultantes de qualquer acções que autorizem e que consultem o Fish and Wildlife Service se as suas actividades colocarem em risco os ursos.

No entanto, Kempthorne invocou uma secção da lei que lhe permite adoptar as medidas existentes para ultrapassar a ESA, se as outras regras forem mais rígidas. No caso do urso polar, diz ele, qualquer actividade considerada autorizável pela Acta de Protecção dos Mamíferos Marinhos, que se foca em manter cada animal individualmente, e não uma espécie, longe de perigo, seja permitida sob a ESA.

A listagem desencadeia automaticamente uma proibição à importação de peles de troféu do Canadá para os Estados Unidos, que era permitida ao abrigo de uma excepção na lei dos mamíferos marinhos.

“É perturbador que ao mesmo tempo que a administração finalmente reconhece o impacto do aquecimento global, esteja a tentar esquivar-se a fazer alguma coisa sobre a questão", diz Andrew Wetzler, director do projecto das espécies ameaçadas do Natural Resources Defense Council de Chicago. A organização foi uma das três que processou o departamento como forma de pressão para a listagem dos ursos polares.

A há muito aguardada decisão chega meses depois do primeiro prazo legal ter terminado, Janeiro, e um dia antes de um novo prazo imposto por um tribunal federal em resposta ao processo dos ambientalistas.

Os ursos polares são a primeira espécie nos Estados Unidos a ser considerada ameaçada primariamente devido ao aquecimento global.

Fonte: Simbiotica

sexta-feira, 16 de maio de 2008

O controlo dos fogos florestais conduz a mais carbono no ar, revela uma nova pesquisa realizada nas florestas californianas. A descoberta sugere que florestas poupadas ao fogo podem libertar mais quantidade deste gás de efeito de estufa do que absorvem.

Décadas de supressão dos fogos naturais aumentou o número de árvores sobreviventes nas florestas californianas mas este crescimento foi à custa das árvores maiores, que são menos resistentes à seca a outros stresses ambientais que as árvores jovens e mais pequenas, o que resulta num declínio da quantidade total de carbono armazenado nestas florestas.

Entre a década de 30 e 90 do século passado, as florestas cada vez mais cerradas tiveram uma tal queda em biomassa que agora armazenam menos de um terço do que antes faziam, relatam Aaron Fellows e Michael Goulden, ambos da Universidade da Califórnia, Irvine. Os seus resultados serão publicados na revista Geophysical Research Letters.

A descoberta vai exactamente ao contrário das expectativas. Pensava-se que mais árvores significava mais carbono a ser retirado da atmosfera. "Se suprimirmos os fogos e muitas pequenas árvores se desenvolverem, devíamos armazenar mais carbono", diz o ecologista Richard Houghton, do Woods Hole Research Center de Falmouth, Massachusetts.

Este cerrar da floresta era considerada uma razão para os investigadores do clima observarem mais absorção de dióxido de carbono nas latitudes médias do hemisfério norte do que conseguiam explicar. Mas o facto de serem mais cerradas parece tornar as florestas californianas emissoras de carbono ao reduzir-se o total de biomassa.

Extensos dados históricos sobre a densidade de árvores são relativamente raros mas Goulden e Fellows encontraram um inventário das florestas californianas compilado na década de 30. Compararam os dados com censos florestais realizados na década de 90 em zonas semelhantes.

No total, o número de árvores tinha aumentado, com as florestas de coníferas de altitude média a mostrar o maior crescimento. Durante o intervalo de 60 anos, a densidade dessas árvores aumentou 34% mas a quantidade total de vegetação arbórea, e logo a quantidade de carbono aprisionado, na realidade diminuiu 26%.

“A razão para isto é que as árvores não são todas iguais", diz Goulden. "Por cada grande árvore que perdemos, precisamos de 50 árvores pequenas para absorver a mesma quantidade de carbono."

Em caso de seca, as árvores pequenas limpam rapidamente a água, deixando as maiores vulneráveis. Os autores colocam a hipótese de esta competição ser a razão para o declínio das grandes árvores.

Antes da intervenção humana, os fogos florestais na Califórnia queimavam principalmente junto ao solo e tinham maior probabilidade de queimar as árvores jovens e a vegetação rasteira, reduzindo os andares inferiores da floresta. As árvores maduras e de grande dimensão eram resistentes a estes fogos.

Da década de 30 à década de 90, as florestas californianas analisadas libertaram o que se estima terem sido 0,7 toneladas de carbono por hectare e por ano. Um hectare de floresta saudável e em crescimento absorve duas ou três toneladas de carbono por ano, diz Goulden.

A média de carbono emitido pelas florestas é pequena quando comparada com as 1,6 milhões de toneladas de carbono libertadas pela queima de combustíveis fósseis nos Estados Unidos só em 2003. O solo e os oceanos absorvem parte deste carbono e as medições atmosféricas indicam que a América do Norte está a absorver mais carbono do que os investigadores conseguem explicar.

Mas os resultados sugerem que o aumento da densidade das florestas pode não ser o responsável por este 'sumidouro de carbono desconhecido'.

"O que todos têm andado a assumir que sejam sumidouros terrestres de carbono pode muito bem não o ser", diz Houghton. "Esta é a primeira vez que alguém tinha medições suficientemente cedo para realmente avaliar onde o carbono foi armazenado e onde foi perdido."

É difícil dizer o que aconteceu às florestas desde meados dos anos 90 mas o aumento de densidade deve ter continuado, diz Goulden. As florestas são agora tão densas que os fogos rasteiros não se desenvolvem de forma correcta. Um fogo agora iria queimar tanto as árvores pequenas como as grandes.

As florestas "serão sempre que ser geridas", diz Sue Exline, porta-voz da Floresta Nacional Sierra na Califórnia. "Devido à influência da sociedade, não conseguimos voltar à floresta que já existiu e deixar que ela cuide de si própria."

Fonte: Simbiotica

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Microondas matam clandestinos do balastro

Investigadores americanos dizem ter desenvolvido uma forma eficaz de matar as plantas e animais indesejados que andam à boleia da água de balastro dos cargueiros comerciais.

Testes mostraram que um sistema contínuo de microondas foi capaz de remover toda a vida marinha presente nos tanques de água dos navios.

As Nações Unidas consideram as espécies invasoras dispersas pelas descargas de água de balastro uma das quatro principais ameaças aos ecossistemas marinhos a nível mundial.

A descoberta irá ser publicada na próxima edição da revista Environmental Science and Technology.

O comércio marítimo desloca mais de 80% dos produtos a nível mundial e transfere mais de cinco mil milhões de toneladas de água de balastro internacionalmente e por ano, revela dados recolhidos pelas Nações Unidas.

Os navios, especialmente os grandes cargueiros, precisam de tanques de balastro para fornecer estabilidade na água e para corrigir qualquer alteração na massa do navio.

Quando a carga de um navio é descarregada (1), o navio enche os tanques de balastro com água e quando volta a ser carregado (3), frequentemente do outro lado do mundo, a água é deitada fora.

Graphic showing the ballast water cycle (Image: BBC)

O co-autor do artigo, Dorin Boldor, do centro agrícola da Universidade Estatal da Louisiana, refere que a equipa criou o dispositivo de microondas para ser encaixado na válvula de saída dos tanques de balastro.

"A ideia base é bombear a água de balastro através de uma cavidade com microondas, tal como um forno de microondas doméstico. A potência é muito superior e utiliza outra frequência mas cria um campo eléctrico de alta intensidade no centro da cavidade que oscila rapidamente."

"As moléculas de água vão começar a girar rapidamente, criando fricção que gera calor. Mas gera calor em todo o volume ao mesmo tempo, ao contrário do que aconteceria se tivéssemos que utilizar outro mecanismo gerador de calor e conduzi-lo através do líquido."

Isto significa que os investigadores têm um alto grau de confiança de que o sistema trata toda a água de forma a remover todos os organismos indesejados. "É extremamente rápido e muito eficiente na transferência de energia das microondas para calor."

Desde há milhares de anos que as espécies marinhas têm sido dispersas através dos oceanos por meios naturais, como as correntes ou flutuando em detritos como troncos.

Mas barreiras naturais, como as diferenças de temperatura e as massas continentais, limitaram o alcance desta dispersão em algumas espécies e permitiram que diferentes ecossistemas marinhos se formassem.

Desde o surgimento da frota de cargueiros moderna, e com o aumento do comércio entre nações, estas barreiras naturais foram ultrapassadas, permitindo que espécies não nativas fossem introduzidas, desequilibrando o funcionamento dos ecossistemas.

O Programa, liderado pelas Nações Unidas, de Gestão Global de Águas de Balastro (GloBallast) estima que pelo menos 7 mil espécies podem ser transportadas através do globo nos tanques de um cargueiro.

É verdade que muitas destas plantas e animais não sobrevivem à viagem mas algumas consideram o novo ambiente suficientemente favorável para estabelecer uma população reprodutora e começar a competir com as espécies nativas.

Por exemplo, refere a GloBallast, o mexilhão-zebra europeu Dreissena polymorpha já infestou mais de 40% das águas continentais americanas. Entre 1989 e 2000, gastou-se $1bilião no controlo da propagação desta praga.

A chegada de uma alforreca invasora Mnemiopsis leidyi levou a alteração de regime ecológico radical no Mar Negro, o que contribuiu para o colapso da pesca comercial na região.

A dada altura, esta alforreca era responsável por 90% da biomassa total do Mar Negro. O seu apetite pelo plâncton nativo significou que as restantes espécies de peixe não eram capazes de competir e restabelecer populações viáveis.

Em Fevereiro de 2004, a comunidade internacional de comércio marítimo concordou em estabelecer medidas mais rigorosas para impedir que as descargas de água de balastro libertasse espécies potencialmente invasoras.

A Convenção Internacional para o Controlo e Gestão da Água de Balastro e Sedimentos do Navios exige que todos os navios com mais de 400 toneladas instalem sistemas de tratamento de água de balastro.

O desenvolvimento agora apresentado por esta equipa de investigadores parece ideal para os operadores comerciais cumprirem as suas obrigações de acordo com esta legislação, explica Boldor.

"Deve funcionar muito bem instalado nos próprios navios cargueiros de grande dimensão mas quando se trata de embarcações menores, deve ser mais eficaz a nível de custos ter um sistema de barcaças nos portos. A barcaça abordava o navio, retirava e tratava a água de balastro enquanto aguardavam para acostar."

Fonte: Simbiotica

Saber mais:

GloBallast

Environmental Science and Technology journal

Protecção dos ecossistemas depende do controlo de clandestinos

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