Os ursos polares vão ser listados como ameaçados sob a Acta das Espécies Ameaçadas americana (ESA), anunciou relutantemente o secretário do interior.
Ainda assim, a listagem praticamente não oferece qualquer protecção acrescida aos ursos, que estão ameaçados principalmente devido à perda do gelo oceânico na zona polar.
“Quem me dera que a decisão pudesse ser outra", disse o secretário do interior Dirk Kempthorne, apelidando a ESA de “lei inflexível" que não lhe permitia considerar os potenciais danos económicos resultantes da listagem.
Em vez disso, a lei exige que a decisão seja baseada apenas na melhor ciência disponível, neste caso uma série de nove relatórios emitidos pelo US Geological Survey (USGS) em Setembro passado.
“Os nossos relatórios, bem como o restante corpo de investigação, sugerem claramente que se o gelo marinho continuar a desaparecer, o futuro do urso polar está realmente ameaçado", diz Steve Amstrup, do USGS de Anchorage, Alasca, que liderou o esforço de classificação.
Esses estudos descobriram que o gelo marinho é vital para a sobrevivência do urso polar e tem vindo a desaparecer de forma dramática nos últimos anos. Para além disso, múltiplos modelos climáticos, escolhidos pelo seu rigor na descrição da redução observada do gelo árctico, prevêem que o gelo vai continuar a recuar.
Espera-se que o gelo fino que cobre a maior parte do oceano Árctico derreta completamente este Verão, deixando o pólo norte livre de gelo, de acordo com uma projecção do Centro Nacional da Neve e Gelo dada a conhecer no início deste mês.
Ainda que Kempthorne tenha reconhecido na quarta-feira que o aquecimento global está a causar o recuo do gelo árctico e que as actividades humanas têm "algum impacto" nas alterações climáticas, ele referiu que não se pode estabelecer nenhuma ligação entre nenhuma instalação ou perfuração de gás ou petróleo e o destino do urso. “A perda de gelo marinho, não a exploração de gás ou petróleo ou qualquer actividade de subsistência, é a principal ameaça ao urso polar."
“Esta situação não deve abrir a porta à utilização da ESA para regular as emissões de gases de efeito de estufa", acrescentou ele, “esta não é a ferramenta adequada para lidar com as alterações climáticas."
A listagem vai exigir que as agências federais considerem os riscos para os ursos polares resultantes de qualquer acções que autorizem e que consultem o Fish and Wildlife Service se as suas actividades colocarem em risco os ursos.
No entanto, Kempthorne invocou uma secção da lei que lhe permite adoptar as medidas existentes para ultrapassar a ESA, se as outras regras forem mais rígidas. No caso do urso polar, diz ele, qualquer actividade considerada autorizável pela Acta de Protecção dos Mamíferos Marinhos, que se foca em manter cada animal individualmente, e não uma espécie, longe de perigo, seja permitida sob a ESA.
A listagem desencadeia automaticamente uma proibição à importação de peles de troféu do Canadá para os Estados Unidos, que era permitida ao abrigo de uma excepção na lei dos mamíferos marinhos.
“É perturbador que ao mesmo tempo que a administração finalmente reconhece o impacto do aquecimento global, esteja a tentar esquivar-se a fazer alguma coisa sobre a questão", diz Andrew Wetzler, director do projecto das espécies ameaçadas do Natural Resources Defense Council de Chicago. A organização foi uma das três que processou o departamento como forma de pressão para a listagem dos ursos polares.
A há muito aguardada decisão chega meses depois do primeiro prazo legal ter terminado, Janeiro, e um dia antes de um novo prazo imposto por um tribunal federal em resposta ao processo dos ambientalistas.
Os ursos polares são a primeira espécie nos Estados Unidos a ser considerada ameaçada primariamente devido ao aquecimento global.
Fonte: Simbiotica