sábado, 8 de novembro de 2008

Como um peixe fora de água salgada


Um peixe marinho que parece estar à beira de se adaptar à vida em água doce está a lançar luz sobre a forma como algumas espécies conseguiram fazer essa transição evolutiva no passado.

Ao contrário do salmão e de algumas trutas, que conseguem sobreviver tanto em rios como no mar, a maioria dos peixes apenas consegue viver num desses ambientes.

Mas pescadores do Maine começaram a descobrir um peixe marinho conhecido como peixe-escorpião Myoxocephalus octodecimspinosus em estuários, levando Kelly Hyndman e David Evans, zoólogos da Universidade da Florida em Gainesville, a decidir analisar melhor a situação.

Colocaram os peixes em aquários contendo diferentes concentrações de água salgada e, após 24 e 72 horas, mediram as concentrações de sódio, potássio e cloro no sangue, bem como os níveis de três proteínas nas guelras que ajudam a regular a presença desses iões. As três proteínas são a Na+/K+-ATPase, uma cotransportadora de sódio, potássio e cloro e reguladora da condutância transmembranar da fibrose quística, vulgarmente conhecida por bomba sódio-potássio.

A equipa relata na última edição da revista Experimental Zoology que mesmo em água doce, o peixe-escorpião produzia a mesma quantidade das três proteínas que produzia em água salgada. A incapacidade do peixe de regular o número destas proteínas torna mais difícil a sua sobrevivência em água doce a longo prazo.

"Tanto quanto sabemos esta é a primeira vez que a barreira fisiológica que impede os peixes marinhos de entrar em água doce foi identificada", diz Hyndman.

Mas estranhamente, a análise das amostras de sangue revelou que ainda que o peixe numa mistura de 10% de água do mar e 90% de água doce estivesse a perder estes iões para a água salobra, aqueles que estavam em concentrações de água salgada de 20% ou mais, já não tinham esse problema e podiam ter sobrevivido indefinidamente.

A osmolaridade, a concentração de iões como o potássio, sódio e cloro, da água salgada a 20% em que os peixes foram imersos era de 190 milimoles, ou apenas 56% da do seu sangue (340 milimoles). A diferença devia significar que os sais saíam do peixe, levando à sua morte. "Ficámos espantados com o facto de o peixe ser capaz de manter uma osmolaridade do sangue constante nestas condições", diz Hyndman.

A equipa sugere que existem outras proteínas que trazem iões para dentro do corpo de forma a compensar o fluxo de saída e que os seus rins também devem impedir a perda de iões.

O peixe-escorpião deve estar à beira de passar para água doce, à medida que as pressões selectivas, como os predadores de água salgada, o empurram para aí. Tal como os peixes marinhos devem ter originado novas espécies de água doce, essas devem ter começado por se deslocar para os estuários salobros. 

"Acho que apanhámos uma espécie nos primeiros passos de inventar, por evolução, uma melhor forma de se adaptar à água doce", diz o biólogo William Marshall, da Universidade St Francis Xavier em Antigonish, Canadá, que não esteve envolvido no trabalho.

Os salmões e a truta, apesar de serem capazes de sobreviver em água doce e salgada, não devem ser bons modelos fisiológicos dos peixes que fizeram a transição definitva, diz ele.

"As espécies estuarinas são oportunistas, muitas espécies conseguem tolerar água salobra mas fazem-no através de mecanismos fisiológicos pouco convencionais", diz Marshall. "Apesar de ser muito ineficiente sobreviver em água salobra bombeando activamente (como o peixe-escorpião parece fazer), ainda parece beneficiar a espécie se o local tiver menos predadores." 


Fonte: Simbiotica


 

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David Evans

Ciclo de monções asiático perturbado por alterações climáticas de origem humana


Uma estalagmite com 1800 anos retirada de uma gruta chinesa revelou que, no passado, anos mais quentes estiveram associados a monções asiáticas mais fortes.

Essa situação foi verdade até há apenas 50 anos, quando a relação se quebrou devido às emissões de gases de efeito de estufa e à poluição de origem humana.

Os investigadores também sugerem que as monções mais fracas podem ter conduzido ao desaparecimento de algumas dinastias chinesas, quando a falta de água e as colheitas fracas desencadearam revoluções.

Há medida que a monção avança, o vapor de água contendo o isótopo pesado de oxigénio 18O tem maior probabilidade de condensar e cair sob a forma de chuva. Logo, quanto mais forte a monção, menos 18O as nuvens contêm e menor a razão 18O/16O. 

As estalagmites registam esta situação pois formam-se a partir de minerais dissolvidos e de água da chuva que pinga de fendas nas grutas. Os cientistas também conseguem datar as monções medindo o decaimento do urânio-234 em tório-230 nas estalagmites.

Em Maio de 2003, Zhang Pingzhong, geólogo da Universidade de Lanzhou na província de Gansu, recolheu uma estalagmite com 11,8 cm da gruta de Wanxiang, localizada entre os planaltos tibetano e Loess, uma região dominada pelas monções do sudeste asiático.

"A amostra é espantosa", entusiasma-se Zhang. "Estava a crescer continuamente desde 190 a.C. e continha uma concentração de urânio invulgarmente alta e poucas contaminações." Isto permitiu à equipa de investigadores fazer medições mais detalhadas da precipitação e da data das monções de forma muito mais rigorosa do que estudos anteriores, com uma margem de erro de décadas e não de séculos.

Escrevendo na revista Science, os investigadores mostram que a intensidade das monções oscilou ao longo dos últimos dois milénios, com as monções mais fortes a acompanhar os anos mais quentes, como determinado pela actividade solar e por registos de temperaturas obtidos, por exemplo, dos anéis das árvores.

"No entanto, esta correlação parou por volta da década de 60", explica Zhang. "Isto pode sugerir que o aumento dos níveis de gases de efeito de estufa e dos aerossóis atmosféricos causados pelas actividades humanas estão a tornar as monções mais fracas."

 maior emissor de gases de efeito de estufa com um quinto da população mundial, a China tem razão para se preocupar, acrescenta Zhang. "O governo deve pensar cuidadosamente sobre a forma de utilizar correctamente os recursos aquíferos e em tentar restaurar o ritmo natural das monções reduzindo a poluição."

"Esta situação é preocupante dada a escassez de água da China", diz Hai Cheng, geólogo na Universidade do Minnesota em Minneapolis e co-autor do artigo. Mas há mais razões para preocupação: o estudo mostra que as dinastias Tang, Yuan e Ming entraram em colapso durante os períodos de monções fracas, concluindo que o clima "desempenhou um papel crucial" nestes capítulos da história chinesa.

Mas Zhang De'er, cientista-chefe do Centro Nacional do Clima de Pequim, não está convencida. "O clima é apenas um dos muitos factores que determinam a ascensão e a queda das dinastias", diz ela, salientando que a intensidade da monção e a seca durante o final da dinastia Tang medidas no estudo não é consistente com os registos de clima chineses. Para além disso, o estudo também mostra que houve menos chuva durante os períodos altos das dinastias Song e Ming.

Jonathan Overpeck, director do Laboratório de Estudos Ambientais da Universidade do Arizona em Tucson, acredita que o dados devem ser comparados com outras provas paleoclimáticas e, mais importante, com os registos históricos, que mostram uma imagem mais complexa da evolução social. "Duvido que o clima seja o motor primário das sociedades humanas mas seria complicado estabelecer esta ligação tão forte com base apenas num tipo de evidência."

O estudo tem, no entanto, uma importante para o futuro, diz Overpeck. "Em todo mundo estamos a contar cm reservas de água que não são certas no futuro e corremos o risco de ultrapassar a capacidade do ambiente."


Fonte: Simbiotica


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Monções indianas podem desaparecer

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Descoberta traça vampira


Uma população até agora desconhecida de traças vampiras foi descoberta na Sibéria e, de acordo com os entomólogos, terá evoluído a partir de uma espécie que se alimentava de fruta.

Apenas ligeiras variações de padrão de asa distinguem a população russa de uma traça comum na Europa central e do sul,Calyptra thalictri, que apenas se alimenta de fruta.

Quando pousadas nas mãos dos investigadores, as traças russas perfuraram a pele com as suas línguas armadas com ganchos e bárbulas para sugar sangue.

A entomóloga Jennifer Zaspel, da Universidade da Florida em Gainesville, refere que a descoberta sugere que a população de traças pode estar numa "trajectória evolutiva" de divergência com as restantes populações de C. thalictri. Esta é a segunda população de traças vampiras que Zaspel descobriu, a primeira foi na Rússia em 2006.

No próximo Janeiro, ela tenciona comparar o DNA das populações russas com o das restantes populações e o de outras espécies para confirmar as suas suspeitas.

"Com base na geografia, comportamento e variação fenotípica dos padrões de asas, podemos especular que estas traças representam algo diferente, algo novo", diz Zaspel. "Mas é difícil dizer sem saber as diferenças genéticas entre os indivíduos dessa população, bem como entre indivíduos de outras populações, até que ponto este grupo será."

Se se confirmar que Zaspel capturou realmente uma traça da fruta em plena evolução para alimentação à base de sangue, pode fornecer pistas para a forma como algumas traças desenvolveram o gosto pelo sangue.

Alguns investigadores, salienta ela, colocaram a hipótese de que os insectos e outros animais vampiros evoluíram de animais com comportamentos como alimentar-se de lágrimas, estrume ou ferimentos infectados.

"Observamos uma progressão da alimentação com néctar para o lamber de sumos de fruta, para diferentes comportamentos perfuradores de fruta, culminando finalmente com a perfuração da pele e a alimentação de sangue", diz ela.

Chris Nice, biólogo que estuda a evolução de borboletas na Universidade Estatal do Texas em San Marcos, diz que poucas borboletas e traças estão equipadas com as línguas com ganchos e bárbulas necessárias à perfuração dos frutos. "A etapa de perfuração de fruta prepara o palco, no sentido morfológico, para outras transições, neste caso para a alimentação com sangue."

Nice acrescenta que a investigação genética como a de Zaspel é a única maneira de testar as hipóteses sobre a forma como certos comportamentos evoluem.

A próxima questão é saber porque motivo esta população russa deC. thalictri parece ter desenvolvido este comportamento, diz Zaspel.

Ela salienta que apenas os machos são vampiros, levantando a possibilidade de que, em algumas espécies de borboletas e outras traças, o façam para passar sal para as fêmeas durante a copulação.

"Não há qualquer prova de que prolongue a vida do macho ou algo parecido", diz ela. "Logo suspeitamos que provavelmente passe para a fêmea." Este presente sexual forneceria nutrientes importantes para as larvas que se alimentam de folhas, pobres em sódio. Se o sal for limitado no ambiente de alguma forma, a teoria do presente sexual "faria sentido", acrescenta Nice. 


Fonte: Simbiotica

Genes humanos têm múltiplas funções


DNAApesar de as pessoas terem frequentemente dificuldades a dominar mais que uma disciplina, os nossos genes não têm esses problemas.

Estudos mundiais da expressão génica em 15 tecidos e linhagens celulares diferentes revelaram que 94% dos genes humanos geram mais do que produto.

Os estudos, publicados online ontem nas revistasNature e Nature Genetics, usaram sequenciação de alta velocidade para gerar o retracto mais detalhado até à data de como os genes se expressam em diferentes tecidos.

Apenas cerca de 6% dos genes humanos são formados por um segmento linear único de DNA. A maioria dos genes são compostos por secções de DNA que se encontram em várias localizações ao longo de um filamento. Os dados codificados nestes fragmentos são unidos num RNA mensageiro (mRNA) funcional que pode depois ser usado como modelo para construir proteínas.

Mas os investigadores descobriram que o mesmo gene pode ser reunido de diferentes maneiras, por exemplo, deixando de fora um segmento ou incluindo um pedaço da sequência de DNA interveniente.

Este processo, designado por maturação alternativa, pode produzir moléculas de mRNA e, consequentemente, proteínas, com funções dramaticamente diferentes, apesar de serem formadas a partir do mesmo gene. O fenómeno oferece algum consolo aos desapontados com o relativamente baixo número de genes encontrados no genoma humano: com cerca de 20 mil genes, os humanos têm mais ou menos o mesmo número que o elegante mas decididamente menos complexo nemátodoCaenorhabditis elegans.

"Estávamos à espera que algo tão sofisticado, complexo e inteligente como nós próprios tivesse pelo menos 100 mil genes", diz Jacek Majewski, geneticista na Universidade McGill de Montreal, Canadá. "Sequenciamos o genoma e percebemos que tínhamos o mesmo número que o C. elegans.

Felizmente, a maturação alternativa pensa-se que só ocorra em perto de um décimo dos genes de C. elegans, restaurando a dignidade da complexidade do genoma humano. Compreender esta flexibilidade deve ajudar a revelar como os genes maturados de forma incorrecta podem desencadear doenças.

Apesar do intenso interesse na maturação alternativa, o fenómeno tem sido difícil de estudar e as técnicas laboratoriais habituais falham muitas vezes na detecção de formas maturadas raras. Anteriormente os investigadores estimavam que 74% de todos os genes humanos são maturados alternativamente mas reconheciam que esta estimativa devia aumentar com o progresso das técnicas de estudo.

Agora, dois grupos, um liderado pelo biólogo informático Christopher Burge, do Instituto de Tecnologia do Massachusetts em Cambridge, e outro liderado pelo biólogo molecular Benjamin Blencowe, da Universidade de Toronto no Canadá, estudaram a maturação alternativa usando dados de sequenciação de alta velocidade gerados pela Illumina, uma companhia de biotecnologia sediada em San Diego, Califórnia.

A técnica funciona usando uma enzima para converter o mRNA novamente em DNA, que pode depois ser sequenciado. Blencowe estudou as formas maturadas encontradas em seis tecidos diferentes, incluindo cérebro, fígado, músculo e pulmão. Burge usou estas amostras para além de outras, nomeadamente linhagens de cancro da mama. Com base em mais de 400 milhões de sequências, a equipa de Burge estima que 92 a 94% de todos os genes humanos possam originar mais que uma molécula de RNA.

Especialistas no campo concordam que o trabalho é importante mas não estão particularmente surpreendidos pelos números. "O que é novo é a tecnologia, que vai ter um enorme efeito na forma como estudamos a maturação", diz Douglas Black, biólogo molecular na Universidade da Califórnia, Los Angeles.

A análise dos novos catálogos de maturação pode revelar padrões acerca da forma como o processo é regulado mas são necessários mais estudos para determinar se todas estas formas alternativas têm função. "A questão é 'São todas estas formas biologicamente relevantes?'", comenta Marie-Laure Yaspo, geneticista do Instituto Max Planck de Genética Molecular de Berlim, Alemanha. Algumas destas variantes raras de maturação podem não ser mais que ruído de fundo gerado por erros ocasionais, salienta ela.

Mas as técnicas convencionais para apagar genes inteiros não são eficazes para discernir a função de uma variante em relação a outra. "O que realmente precisa de ser feito é desenvolver métodos de alto rendimento de analisar a função destas variações de maturação", diz Blencowe. "Esse é o grande desafio." 


Fonte: SImbiotica


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Christopher Burge

Expressão génica é tão importante como o tipo genético



Há quatro décadas, cientistas como Jane Goodall e Toshisada Nishida iniciaram investigações inovadoras que fizeram o mundo aperceber-se de até que ponto os humanos são parecidos com o seu primo mais próximo vivo, o chimpanzé.

Agora, Goodall, Nishida e 18 outros cientistas líderes no campo vão reunir-se em San Francisco, Califórnia, para um simpósio organizado pela Fundação Leakey, que apoia e conduz investigação sobre as origens do Homem.

Goodall e Nishida vão receber cada um prémio de US$25 mil da fundação em honra do seu trabalho mas o simpósio tem como objectivo discutir os desafios chave da investigação que os primatólogos esperam encontrar nos próximos 40 anos. Os participantes revelaram à revista Nature as cinco perguntas mais importantes que deverão sair da discussão.

Por que são os primatas diferentes uns dos outros?

Os primatas têm uma miríade de estilos de vida: os gorilas vivem em grupos de muitas fêmeas e um macho dominante 'dorso prateado', por exemplo, enquanto os gibões vivem me famílias nucleares. Espécies diferentes têm temperamentos diferentes, diz Richard Wrangham, da Universidade de Harvard em Cambridge, Massachusetts. Os bonobos, os humanos e os chimpanzés, por exemplo, são fortemente aparentados mas os bonobos são famosos por usar o sexo para manter a paz, enquanto os chimpanzés fazem guerras e chegam a matar os bebés da própria espécie. "Se se está interessado na evolução humana", diz Wrangham, "ter uma verdadeira compreensão da forma como ocorreu a separação entre chimpanzés e bonobos e como conduziu a estas espécies tão contrastantes, cada uma com semelhanças com o Homem no seu comportamento, é uma questão muito entusiasmante."

Como pensam os primatas?

Os grandes símios cativos são espantosamente inteligentes: conseguem aprender linguagem gestual e usam as novas tecnologias mas outros animais também mostram sinais de inteligência, os cérebros relativamente grandes dos primatas não explicam tudo. A equipa de marido e mulher Dorothy Cheney e Robert Seyfarth, da Universidade da Pennsylvania em Filadélfia pergunta "O que é tão especial acerca dos primatas?"

Uma resposta possível é que os primatas precisam de inteligência para gerir as suas vidas sociais complexas. Os chimpanzés macho, por exemplo, trocam carne por ajuda em lutas e apoiam os aliados que os ajudaram, salienta John Mitani, da Universidade do Michigan em Ann Arbor. Mas os cientistas não compreendem realmente como é que os chimpanzés selvagens realizam e recordam estas interacções: "Sabemos muito pouco acerca dos mecanismos cognitivos usados pelos chimpanzés para ter presente quem coopera com quem e em que situações", diz Mitani.

Porque cooperam os primatas?

Quando os chimpanzés trocam carne e se juntam em bandos para lançar ataques, são motivados simplesmente pela reciprocidade ou pelo facto de de ajudar indivíduos aparentados é bom para sua própria causa genética? Ou, como Joan Silk, da Universidade da Califórnia em Los Angeles pergunta, "Outros primatas partilham as preferências humanas pela justiça, empatia e preocupação com o bem-estar dos outros?"

Estudar estas questões em primatas macho tem sido especialmente difícil pois é difícil detectar as relações de parentesco em sociedades promíscuas. Mas as técnicas de amostragem não invasivas estão a começar a ajudar. Estas técnicas estão a permitir aos cientistas estudar a paternidade em primatas: "Só recentemente podemos perguntar quem são os pais, se a descendência conhece os progenitores e se mantém alguma relação especial com eles", diz Ann Pusey, da Universidade do Minnesota em St Paul.

De onde vêm os primatas?

Ao longo dos últimos 40 anos, estudos fósseis e genéticos dos ancestrais humanos e de primatas vivos têm mostrado que o Homem evoluiu em África e é fortemente aparentado com os chimpanzés e os bonobos. Então o que levou os humanos a perder o pêlo corporal, desenvolver uma linguagem complexa e outras características consideradas evoluídas? 

Teorias abundam: precisamos de grandes cérebros porque formamos grupos sociais mais complexos ou, como sugere Lynne Isbell, da Universidade da Califórnia, Davis, especula, que desenvolvemos o nosso poder cerebral e comportamento social em conjunto com a visão binocular, aprendizagem, medo e memória como uma adaptação que nos ajuda contra as cobras venenosas. 

Os cientistas esperam combinar diferentes técnicas para desacreditar as teorias erradas. "Será interdisciplinar, envolvendo estudos moleculares, paleontológicos e comparativos para testar as várias hipóteses acerca das origens dos primatas", diz Isbell.

Que primatas ainda existirão na natureza daqui a 40 anos?

Perguntem a qualquer cientista que estuda primatas, especialmente Goodall, e ele citará esta como uma das preocupações principais do campo. Um censo em grande escala revelou, este Agosto, que metade das espécies de primatas selvagens estão em risco de desaparecer no espaço de 10 anos. "Obviamente esta questão envolve questões políticas, sociai e económicas que os primatólogos não podem resolver", salienta David Watts, da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut, "mas leva-nos a pensar que uma confluência de ideias e acções pode resolvê-los e fazemos tudo o que podemos para as promover e vê-las em acção." 


Fonte: Simbiotica


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The Leakey Foundation

Aquecimento polar causado pelo Homem


Cierva CoveA subida de temperatura nos pólos foi pela primeira vez atribuída directamente às actividades humanas, segundo um estudo agora conhecido.

O trabalho, realizado por uma equipa internacional, foi publicado na última edição da revista Nature Geoscience.

Em 2007, a comissão das Nações Unidas sobre alterações climáticas apresentou fortes evidências científicas de que a subida das temperaturas médias globais é  devida principalmente às actividades humanas, o que contradisse ideias de que seria o resultado de fenómenos naturais como o aumento da intensidade solar.

No entanto, na altura não havia provas suficientes para dizer o mesmo acerca do Árctico e do Antárctico.

Agora essa falha na investigação foi corrigida, de acordo com os cientistas que desenvolveram uma análise detalhada das variações de temperatura em ambos os pólos. O estudo indica que que os humanos contribuíram realmente para o aquecimento em ambas as regiões.

Os investigadores esperavam este resultado para o Árctico, devido ao recente aumento brusco do degelo de Verão do gelo marinho na região, mas as variações de temperatura na Antárctica tinham sido, até agora, ainda mais difíceis de interpretar. O estudo actual, de acordo com os investigadores, sugere pela primeira vez que há uma influência discernível tanto na Antárctida como no Árctico.

A equipa de investigação analisou as variações de temperatura nas regiões polares e comparou-as com dois conjuntos de modelos climáticos. Um assumia que não tinha havido interferência humana, enquanto o outro assumia que sim.

O melhor encaixe ocorreu com os modelos que assumiam que as actividades humanas, incluindo a queima de combustíveis fósseis e a destruição da camada de ozono, tinham desempenhado um papel importante.


De acordo com um dos investigadores envolvidos no estudo, Peter Stott, chefe do acompanhamento climático do Serviço Meteorológico inglês, demonstrar formalmente que a Antárctica estava a ser influenciada pelas actividades humanas foi um desenvolvimento crucial.

"No recente relatório do IPCC, por exemplo", diz ele, "não era possível fazer uma afirmação acerca da Antárctica porque o estudo ainda não tinha sido concluído por essa altura. Ainda assim, quando o fizemos notou-se claramente a impressão digital humana nos dados analisados. Realmente não se pode continuar a alegar que se trata de variações naturais que estão a conduzir estas alterações imensas no nosso sistema climático."

Phil Jones, director da Unidade de Investigação Climática da Universidade de East Anglia, comenta: "O nosso estudo está certamente a fechar várias falhas no último relatório do IPCC mas ainda penso que muitas pessoas, incluindo alguns políticos, estarão relutantes em aceitar as evidências ou fazer alguma coisa até que se possa dizer especificamente que um evento em particular foi causado pelo Homem, como uma cheia grave ou uma onda de calor. Até descermos à pequena escala, vai sempre haver pessoas a duvidar das evidências."


Fonte: Simbiotica


Saber mais:

Glaciares antárcticos precipitam-se no oceano

Perda de gelo na Antárctica acelera

Oceano Antárctico está a absorver menos CO2

UE propõe proibir testes científicos em grandes primatas

A autoridade européia de Meio Ambiente planeja proibir testes de laboratório com os parentes mais próximos do homem - chimpanzés, gorilas, bonobos e orangotangos - em um combate aos testes em animais pela indústria farmacêutica e outros laboratórios.

Mas alguns grupos de proteção aos animais de pesquisadores acusaram a União Européia de mascarar uma regulamentação fraca com gestos vazios, já que nenhum grande primata é usado em pesquisas na Europa há seis anos.

"O projeto de legislação de hoje inclui a proibição de testes com esses primatas, mas nenhum deles é usado para pesquisas no momento, isso é considerado por muitos defensores da causa um gesto simbólico", disse o representante Hadwen Trust, da Humane Research.

"É importante acabar com todos os tipos de testes com animais", disse Stavros Dimas, da Comissão Ambiental Européia. "Pesquisas científicas devem se concentrar em encontrar formas alternativas de testes."

Cerca de 12 milhões de vertebrados são usados a cada ano em experiências nos 27 países do bloco - metade para o desenvolvimento de medicamentos, um terço para estudos biológicos e o resto para testes cosméticos, toxicológicos e diagnósticos de doenças.

Cerca de 80% deles são roedores. Os primatas contam cerca de 12 mil animais.

Se a proposta européia for aprovada, os Estados-membros terão que reforçar os padrões para o tratamento de animais, que só seriam usados em situações extremas e em números reduzidos.

Os grandes primatas só poderiam ser usados em experimentos se a sobrevivência da própria espécie estivesse em jogo, ou no caso de uma situação inesperada e ameaçadora para a espécie humana.

Pesquisadores argumentam que já tentaram evitar usar os primatas, mas que eles são indispensáveis para a descoberta da cura de doenças humanas como a aids e o câncer. 

Fonte: Estadão Online

Vacina da Merck contra a Aids facilitou a infecção

Seg, 03 Nov, 09h30
WASHINGTON (AFP)


 A vacina experimental de luta contra a Aids criada 
pelo laboratório americano Merck, cujo teste clínico foi paralisado 
repentinamente no final de 2007, facilitou a infecção pelo vírus HIV, 
de acordo com um estudo de pesquisadores franceses divulgado nesta 
segunda-feira, nos Estados Unidos.

A pesquisa, realizada no Instituto de Genética Molecular de 
Montpellier (França), mostra como essa vacina, que despertou grande 
esperança para vencer a Aids, não apenas foi ineficaz para impedir a 
infecção com o vírus, como a facilitou.

A vacina (HIV-1), utilizada pela Merck nos testes clínicos de fase 1 
e 2, chamados STEP, era baseada em uma cepa enfraquecida do vírus 
muito comum do resfriado, o Adenovírus 5 (Ad5), como vetor de porções 
de HIV no organismo.

Essas "porções" deveriam deflagrar, normalmente, uma resposta do 
sistema imunológico contra uma infecção posterior pelo HIV.

Uma das preocupações causadas pela vacina Ad5 foi que a reação 
imunológica do corpo ao adenovírus provocasse uma rejeição da vacina 
por parte do organismo antes que uma resposta anti-HIV pudesse se 
desenvolver, explicam os cientistas, cujo estudo aparece na versão on-
line do Journal of Experimental Medicine.

Três anos depois do início do teste clínico, os pesquisadores se 
deram conta de que um número cada vez maior de participantes que 
receberam a vacina experimental e tiveram uma resposta imunológica 
aos adenovírus era também mais numeroso em termos de infecção pelo 
HIV, em comparação aos que não desenvolveram imunidade contra o vírus 
do resfriado.

Essa nova pesquisa mostra que a presença durável, no organismo, dos 
anticorpos gerados no ciclo natural das infecções com os adenovírus 
pode alterar a resposta imunológica à vacina anti-HIV, explicam esses 
pesquisadores. De fato, o HIV se propagou em culturas celulares em 
laboratório três vezes mais rápido na presença de anticorpos 
produzidos para reagir à infecção pelo adenovírus Ad5.

Os anticorpos gerados pela vacina se ligam aos receptores na 
superfície das células imunológicas e facilitam a entrada de partes 
do vírus HIV em seu interior.

Uma vez dentro, essas partes do HIV infectam as células, 
especialmente os linfócitos T, principal componente do sistema 
imunitário.

A vacina da Merck foi testada, a partir de 2004, no Brasil, Estados 
Unidos, Austrália, Peru, Porto Rico e África do Sul.

Ao contrário das vacinas tradicionais, já testadas sem sucesso contra 
o vírus da Aids e que tentam reforçar a imunidade do organismo, a 
vacina da Merck visava a estimular os linfócitos T.

Fonte: Noticias Yahoo

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Mundo tem que abandonar obsessão por crescimento, diz revista

 
árvores derrubadas
Especialistas dizem que ambiente não comporta mais crescimento
Em plena crise global, com governos e mercados preocupados com uma possível recessão mundial, a revista especializada britânica New Scientist foi às bancas nesta semana com uma capa na qual defende que a busca por crescimento econômico está matando o planeta e precisa ser revista.

Em uma série de entrevistas e artigos de especialistas em desenvolvimento sustentável, a revista pinta um quadro em que todos os esforços para desenvolver combustíveis limpos, reduzir as emissões de carbono e buscar fontes de energia renováveis podem ser inúteis enquanto nosso sistema econômico continuar em busca de crescimento.

“A Ciência nos diz que se for para levarmos a sério as tentativas de salvar o planeta, temos que remodelar nossa economia”, afirma a revista.

Segundo analistas consultados pela publicação, o grande problema na equação do crescimento econômico está no fato de que, enquanto a economia busca um crescimento infinito, os recursos naturais da Terra são limitados.

“Os economistas não perceberam um fato simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo, nem sua massa nem a extensão da superfície variam. O mesmo vale para a energia, água, terra, ar, minerais e outros recursos presentes no planeta. A Terra já não está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo”, afirma em um artigo o economista Herman Daly, professor da Universidade de Maryland e ex-consultor do departamento para o meio ambiente do Banco Mundial.

Para Daly, o fato de o nosso sistema econômico ser baseado na busca do crescimento acima de tudo, faz com que o mundo esteja caminhando para um desastre ecológico e também econômico, dadas as limitações dos recursos.

“Para evitar este desastre, precisamos mudar nosso foco do crescimento quantitativo para um qualitativo e impor limites nas taxas de consumo dos recursos naturais da Terra”, escreve.

“Nesta economia de estado sólido, os valores das mercadorias ainda podem aumentar, por exemplo, por causa de inovações tecnológicas ou melhor distribuição. Mas o tamanho físico dessa economia deve ser mantido em um nível que o planeta consiga sustentar”, conclui Daly, que compara a atual economia a um avião em alta velocidade e a sua proposta a um helicóptero, capaz de voar sem se mover.

Reformar o capitalismo

Mas essas mudanças no sistema não serão fáceis. Em uma entrevista à revista, James Gustav Speth, ex-conselheiro do governo Jimmy Carter (1977-1981) e da ONU, afirma que o movimento ambiental nunca conseguirá vencer dentro do atual sistema capitalista.

“A única solução é reformarmos o capitalismo atual. Os Estados Unidos cresceram entre 3% e 3,5% por um bom tempo. Há algum dividendo deste crescimento sendo colocado em melhores condições sociais? Não. Os Estados Unidos têm que focar em indústrias sustentáveis, necessidades sociais, tecnologias e atendimento médico decente, e não sacrificar isso para fazer a economia crescer. Eu não defendo o socialismo, mas uma alternativa não-socialista para o capitalismo atual”, diz.

Ele também faz críticas ao atual movimento ambientalista.

“A comunidade ambientalista, pelo menos nos Estados Unidos, é muito fraca quando falamos sobre mudança de estilo de vida, consumo e sobre sua relutância em desafiar o crescimento ou o poder das corporações. Nós precisamos de um novo movimento político nos EUA. Cabe aos cidadãos injetarem valores que reflitam as aspirações humanas, e não apenas fazer mais dinheiro.

Obsessão pelo crescimento

A revista também traz um artigo que discute o argumento de que o crescimento econômico é necessário para erradicar a pobreza e que quanto mais ricos ficam alguns, a vida dos mais pobres também melhora. É a chamada Teoria do Gotejamento.

Segundo Andrew Simms, diretor da New Economics Foundation, em Londres, este argumento, além de “não ser sincero”, sob qualquer avaliação, é “ impossível”.

“Durante os anos 1980, para cada US$ 100 adicionados na economia global, cerca de US$ 2,20 eram repassados para aqueles que estavam abaixo da linha de pobreza. Durante a década de 1990, esse valor passou para US$ 0,60. Essa desigualdade significa que para que os pobres se tornem um pouco menos pobres, os ricos tem que ficar muito mais ricos”.

Segundo ele, isto pode até parecer justo para alguns, mas não é sustentável.

“A humanidade está indo além da capacidade da biosfera sustentar nossas atividades anuais desde meados dos anos 1980. Em 2008, nós ultrapassamos essa capacidade anual em 23 de setembro, cinco dias antes do ano anterior”.

Ele ainda afirma ser impossível que um dia toda a humanidade tenha o padrão de vida dos países desenvolvidos.

“Seriam necessários pelo menos três planetas Terra para sustentar essas necessidades se todos vivessem nos padrões da Grã-Bretanha. Cinco se vivêssemos como os americanos”.

Para Simms, a Terra estaria inabitável há muito tempo antes que o crescimento econômico pudesse erradicar a pobreza.

Para que o mundo possa ter uma economia ecologicamente sustentável, segundo Simms, é preciso acabar com o preconceito de alguns em relação aoo conceito de “redistribuição”, que, para ele, é o único modo viável de acabar com a pobreza.

“Só foi preciso alguns dias para que os governos da Grã-Bretanha e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas econômicas para tentar resgatar o sistema financeiro de um colapso. Por que tem que demorar mais para introduzirem um plano para deter o colapso do planeta trazido por uma conduta irresponsável e ainda mais perigosa chamada obsessão pelo crescimento?”.


Fonte:BBC Brasil

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