sábado, 8 de novembro de 2008

Ciclo de monções asiático perturbado por alterações climáticas de origem humana


Uma estalagmite com 1800 anos retirada de uma gruta chinesa revelou que, no passado, anos mais quentes estiveram associados a monções asiáticas mais fortes.

Essa situação foi verdade até há apenas 50 anos, quando a relação se quebrou devido às emissões de gases de efeito de estufa e à poluição de origem humana.

Os investigadores também sugerem que as monções mais fracas podem ter conduzido ao desaparecimento de algumas dinastias chinesas, quando a falta de água e as colheitas fracas desencadearam revoluções.

Há medida que a monção avança, o vapor de água contendo o isótopo pesado de oxigénio 18O tem maior probabilidade de condensar e cair sob a forma de chuva. Logo, quanto mais forte a monção, menos 18O as nuvens contêm e menor a razão 18O/16O. 

As estalagmites registam esta situação pois formam-se a partir de minerais dissolvidos e de água da chuva que pinga de fendas nas grutas. Os cientistas também conseguem datar as monções medindo o decaimento do urânio-234 em tório-230 nas estalagmites.

Em Maio de 2003, Zhang Pingzhong, geólogo da Universidade de Lanzhou na província de Gansu, recolheu uma estalagmite com 11,8 cm da gruta de Wanxiang, localizada entre os planaltos tibetano e Loess, uma região dominada pelas monções do sudeste asiático.

"A amostra é espantosa", entusiasma-se Zhang. "Estava a crescer continuamente desde 190 a.C. e continha uma concentração de urânio invulgarmente alta e poucas contaminações." Isto permitiu à equipa de investigadores fazer medições mais detalhadas da precipitação e da data das monções de forma muito mais rigorosa do que estudos anteriores, com uma margem de erro de décadas e não de séculos.

Escrevendo na revista Science, os investigadores mostram que a intensidade das monções oscilou ao longo dos últimos dois milénios, com as monções mais fortes a acompanhar os anos mais quentes, como determinado pela actividade solar e por registos de temperaturas obtidos, por exemplo, dos anéis das árvores.

"No entanto, esta correlação parou por volta da década de 60", explica Zhang. "Isto pode sugerir que o aumento dos níveis de gases de efeito de estufa e dos aerossóis atmosféricos causados pelas actividades humanas estão a tornar as monções mais fracas."

 maior emissor de gases de efeito de estufa com um quinto da população mundial, a China tem razão para se preocupar, acrescenta Zhang. "O governo deve pensar cuidadosamente sobre a forma de utilizar correctamente os recursos aquíferos e em tentar restaurar o ritmo natural das monções reduzindo a poluição."

"Esta situação é preocupante dada a escassez de água da China", diz Hai Cheng, geólogo na Universidade do Minnesota em Minneapolis e co-autor do artigo. Mas há mais razões para preocupação: o estudo mostra que as dinastias Tang, Yuan e Ming entraram em colapso durante os períodos de monções fracas, concluindo que o clima "desempenhou um papel crucial" nestes capítulos da história chinesa.

Mas Zhang De'er, cientista-chefe do Centro Nacional do Clima de Pequim, não está convencida. "O clima é apenas um dos muitos factores que determinam a ascensão e a queda das dinastias", diz ela, salientando que a intensidade da monção e a seca durante o final da dinastia Tang medidas no estudo não é consistente com os registos de clima chineses. Para além disso, o estudo também mostra que houve menos chuva durante os períodos altos das dinastias Song e Ming.

Jonathan Overpeck, director do Laboratório de Estudos Ambientais da Universidade do Arizona em Tucson, acredita que o dados devem ser comparados com outras provas paleoclimáticas e, mais importante, com os registos históricos, que mostram uma imagem mais complexa da evolução social. "Duvido que o clima seja o motor primário das sociedades humanas mas seria complicado estabelecer esta ligação tão forte com base apenas num tipo de evidência."

O estudo tem, no entanto, uma importante para o futuro, diz Overpeck. "Em todo mundo estamos a contar cm reservas de água que não são certas no futuro e corremos o risco de ultrapassar a capacidade do ambiente."


Fonte: Simbiotica


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