quarta-feira, 7 de maio de 2008

Brasileiros fazem primeiro grande mapa para conservação dos sapos

Pererecas, sapos e rãs são o grupo de animais mais ameaçado do mundo.
Mata Atlântica, Amazônia e sul do país são prioritários para proteção dessas espécies.


Marília Juste Do G1, em São Paulo

O mundo está à beira de uma extinção veloz e catastrófica, e poucos estão prestando atenção: a extinção dos sapos. Pelo menos 35% das espécies de sapos, pererecas e rãs estão correndo perigo, o que torna esses anfíbios o grupo de animais mais ameaçado do planeta. Para ajudar a salvá-lo, pesquisadores brasileiros fizeram o primeiro mapa de áreas essenciais para conservação de sapos e rãs do mundo. O objetivo é orientar as políticas ambientais para que protejam de fato esses animais.

Os “anuros” -- grupo que envolve sapos, rãs e pererecas -- são especialmente vulneráveis exatamente por serem anfíbios e dependerem tanto de água quanto de terra para sobreviver. Logo, não adianta nada estarem em uma mata preservada se os cursos de água estiverem interrompidos ou poluídos. Da mesma maneira, um rio limpo de nada serve se estiver cercado de urbanidade.

Foto: Célio F. B. Haddad
A perereca Bokermannohyla izecksohni é típica do Brasil e uma das que está ameaçada de extinção (Foto: Célio F. B. Haddad)

“Vamos supor que uma espécie de sapo viva na mata e se reproduza em riachos. Imaginemos também que depois de um desmatamento, uma parte da mata que sobrou fique separada desse riacho. Agora essa espécie tem que migrar do fragmento de mata ao qual ela ficou restrita até o rio para se reproduzir. Nesse caminho, pode ser predada por algum inimigo natural, pode sofrer desidratação, ou uma série de outras ameaças”, explicou ao G1 o pesquisador Rafael Loyola, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que participou da elaboração do mapa. “Como esse tipo de situação é bastante comum devido à fragmentação de habitats, muitas espécies que têm girinos morrem por não alcançarem mais seus locais de reprodução”, afirma.

Além disso, as espécies do grupo também são mais sensíveis às mudanças de temperatura e à poluição. E como se não fosse suficiente, uma nova ameaça surgiu: um fungo que está devastando os sapos do mundo. “Aparentemente esse fungo aparece em regiões mais quentes e associado a corpos d'água - o que reforça estratégias de conservação diferenciadas para espécies que possuem girinos”, diz o cientista.

Foto: Célio F. B. Haddad
A perereca-de-Alcatrazes (Scinax alcatraz) como o próprio nome diz é típica da ilha de Alcatrazes, no litoral norte de São Paulo (Foto: Célio F. B. Haddad)

Para conservar os anuros são necessários cuidados especiais, portanto. É preciso levar em conta tanto os ambientes que eles precisam, como também as características biológicas diferentes de cada espécie. É essa combinação que o mapa da equipe brasileira traz de inovação.

O estudo feito por Loyola e seus colegas da Unicamp, da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e da Unisinos (Universidade do Vale dos Sinos) apresenta 66 áreas prioritárias para conservação dos sapos em toda a América Latina. Segundo ele, a Mata Atlântica, os campos no sul do Brasil e as terras altas no norte da Amazônia precisam ser protegidas se o Brasil não quiser perder mais espécies. No resto do continente, a região tropical dos Andes, o sul da Argentina, a América Central e o México também precisam estar no foco das ações de conservação.

Todas essas regiões estão sob perigo constante. “As áreas prioritárias que apontamos e que estão localizadas no Brasil sofrem primariamente com o desmatamento para uso de terras em agricultura e pecuária - especialmente ao longo de grandes rios - assim como a introdução de espécies exóticas de plantas e animais. No México e América Central, a maior ameaça que essas áreas enfrentam é a expansão agropecuária”, explica Loyola.

As áreas para conservação são divididas naquelas essenciais para a preservação dos sapos que passam pela fase de girino e daqueles que já nascem direto com a forma que terão na vida adulta.

O trabalho da equipe brasileira foi apresentado em uma das principais revistas científicas, a PloS ONE, nesta semana.

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