Há cinquenta anos, o químico Stanley Miller realizou a sua famosa experiência para investigar a forma como a vida teria surgido na Terra. Recentemente, os cientistas voltaram a analisar os seus resultados com a ajuda de tecnologia actual e descobriram uma nova implicação: as faíscas que teriam desencadeado todo o processo podiam ter tido origem em vulcões.
A experiência da década de 50 tinha como objectivo testar a forma como os blocos químicos de construção da vida teriam surgido. Miller e o seu mentor da Universidade de Chicago, Harold Urey, usaram um sistema de recipientes fechados contendo água e um gás de moléculas simples que se pensava ser comum na atmosfera da Terra primitiva.
Atingiram o gás com faíscas eléctricas (que representavam os relâmpagos da Terra primitiva) e descobriram que após algumas semanas a água ficava acastanhada. Quando analisada, continha aminoácidos, formados a partir dos ingredientes simples dos recipientes.
A descoberta foi apregoada de prova de que o processo de construção dos blocos químicos necessários ao surgimento de vida na Terra podia ser totalmente baseado em fenómenos naturais.
Recentemente, o investigador do Scripps Institution of Oceanography Jeffrey Bada, estudante de graduação de Miller quando a experiência foi realizada pela primeira vez, tropeçou em recipientes contendo resíduos dos testes. Numa variação da famosa experiência, tinha sido injectado vapor no gás para simular as condições na nuvem de um vulcão em actividade. Os resultados desta variação da experiência nunca tinham sido divulgados.
Nas amostras agora recuperadas, Bada encontrou 22 aminoácidos, 10 dos quais nunca tinham sido encontrados em experiências deste tipo.
"O dispositivo a que Stanley Miller prestou menos atenção foi aquele que revelou os resultados mais excitantes", diz o membro da equipa Adam Johnson, estudante de graduação na Universidade do Indiana. "Suspeitamos que parte da razão para isto é que ele não tinha as ferramentas analíticas que temos actualmente, logo ele teria falhado muita informação."
Após reanalisar as amostras das experiências originais que foram publicadas em 1953, a equipa também descobriu que esses recipientes continham muito mais moléculas orgânicas do que Stanley Miller tinha detectado.
"Acreditamos que havia muito mais a aprender com a experiência original de Miller", diz Bada. "Descobrimos que em comparação com a montagem que todos conhecem dos livros de biologia, a montagem vulcânica produz uma variedade maior de compostos."
Ao longo dos últimos 50 anos, os cientistas tê alterado o seu modo de pensar acerca dos elementos que estariam presentes na atmosfera primitiva da Terra. Miller usou metano, hidrogénio e amónia nas suas experiências, mas agora os investigadores pensam que a atmosfera da Terra antiga seria essencialmente dióxido de carbono, monóxido de carbono e azoto.
"À primeira vista, se a atmosfera da Terra primitiva tinha muito pouco das moléculas usadas na experiência clássica de Miller, torna-se difícil perceber como a vida pode ter surgido através de um processo semelhante", diz outro membro da equipa, Daniel Glavin, do Goddard Space Flight Center em Greenbelt, Md.
"No entanto, para além de água e dióxido de carbono, as erupções vulcânicas também libertam hidrogénio e metano. As nuvens vulcânicas também estão carregadas de electricidade, pois as colisões entre as cinzas vulcânicas e as partículas de gelo geram relâmpagos. Dado que a jovem Terra ainda estava quente da sua formação, os vulcões seriam muito comuns."
Fonte: Simbiotica
Saber mais:
Experiência de Miller e origem da vida
Moléculas egoístas podem estar por trás do surgimento da vida
Meteorito fornece pistas sobre a origem da vida na Terra
Nenhum comentário:
Postar um comentário