segunda-feira, 19 de maio de 2008

As super-velozes baleias-piloto foram observadas a 'correr' em perseguição da presa, que provavelmente inclui lulas gigantes.

A rápida perseguição levou a comparações com as igualmente velozes mas terrestres chitas.

Os cetáceos até utilizam a mesma estratégia altamente especializada que as chitas usam na caça, relatam os cientistas na última edição da revista Journal of Animal Ecology. Segundo eles, acaba com a falsa percepção que temos de que as baleias de águas profundas são animais lentos.

É a primeira vez que este espantoso comportamento, que ocorre centenas de metros debaixo da água e na mais completa escuridão, foi registado.

"Tanto quanto sabemos, nenhuma outra baleia foi registada a nadar assim tão rápido em profundidade", diz a bióloga marinha Natacha Aguilar Soto, da Universidade La Laguna de Tenerife. "As baleias-piloto parecem ser as melhores atletas de velocidade dos mamíferos marinhos que mergulham em profundidade."

Aguilar Soto é membro de uma equipa internacional de investigadores pertencentes a La Laguna, Woods Hole Oceanographic Institution de Massachusetts e da Universidade de Aarhus na Dinamarca.

A equipa marcou e estudou 23 baleias-piloto Globicephala macrorhynchus que vivem ao largo das ilhas Canárias, um dos três locais do mundo onde estas baleias residem permanentemente. As marcações, concebidas pelo co-autor do estudo Mark Johnson do Woods Hole, registaram a velocidade, profundidade e direcção dos mergulhos das baleias, bem como os sons que produziam e ouviam.

Durante o dia, as baleias são vistas frequentemente a preguiçar à superfície em grupos sociais, o que levou os cientistas a pensar que apenas caçavam à noite. Mas as marcações demonstraram que também caçam durante o dia e quando o fazem, mergulham fundo e mergulham rápido.

As marcações mostraram que as baleias demoram apenas 15 minutos a mergulhar de 800 a 1000 metros ou mais. Quando localizam a presa, lançam-se sobre ela a uma velocidade de 9 metros por segundo (32 Km/h). Para além disso, conseguem manter este sprint durante 200 metros, antes de capturarem a presa ou desistirem da perseguição.

A descoberta desafia de forma fundamental a nossa percepção do comportamento dos animais de águas profundas, diz Aguilar Soto. Até agora, os investigadores assumiram que as baleias que mergulham a grande profundidade se deslocavam com relativa lentidão, devido à necessidade de conservar oxigénio enquanto sustinham a respiração.

"Foi completamente inesperado que as baleias piloto atinjam esta velocidade com reservas limitadas de oxigénio. As chitas, por exemplo, duplicam a sua taxa respiratória durante a caçada", diz Aguilar Soto.

Por isso, como as chitas, as baleias piloto devem ter uma estratégia de caça baseada na velocidade e nos sprints energeticamente dispendiosos mas, de alguma forma, conseguem faze-lo a suster a respiração. Isso pode explicar o motivo porque são observadas a preguiçar na superfície, podem estar a recuperar do esforço da caçada.

Também existem provas indirectas de que as baleias podem estar a caçar lulas gigantes. Durante os mergulhos, os marcadores acústicos revelaram que as baleias mudavam da sua ecolocação lenta para uma série de cliques rápidos, como um zumbido.

Isso permite-lhes "ver com o som" a uma maior resolução, diz o co-autor Peter Madsen, da Universidade Aarhus. "A analogia pode ser como passar de fotos para vídeo, indicando que as baleias estão a tentar capturar presas depois do sprint."

Mas "a presa deve ser suficientemente grande e calórica para recompensar os mergulhos profundos e deve ser capaz de se deslocar suficientemente rápido para ultrapassar as baleias à velocidade máxima", diz Aguilar Soto.

Um animal encaixa, a lula gigante Architeuthis. "Descobrimos um pedaço de Architeuthis a flutuar próximo de baleias piloto a mergulhar e lulas gigantes mordidas ão comuns na zona onde as baleias vivem", diz ela.

Pablo Aspas também fotografou uma baleia piloto com um tentáculo na boca (imagem acima). "A cor e forma das ventosas indicam que pertence a uma Architeuthis e o tamanho do pedaço indica que o tentáculo inteiro devia ter dois mentros, ou seja, era de uma lula com 4-5 metros e 180 kg de peso", diz o perito em cefalópodes Angel Guerra, do Instituto de Investigação Marinha de Vigo.

Fonte: Simbiotica

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