As alterações climáticas estão a "amplificar significativamente" as ameaças que as aves do mundo enfrentam, concluiu uma avaliação global. A Lista Vermelha das Aves de 2008 salienta que as secas de longa duração e os episódios de clima extremo colocam stress adicional sobre habitats chave.
A avaliação lista 1226 espécies como ameaçadas de extinção, uma em cada oito espécies de aves. A lista, revista a cada quatro anos, é compilada pela organização BirdLife International.
"É muito difícil atribuir precisamente alterações específicas de cada espécie às alterações climáticas", diz Stuart Butchart, coordenador dos indicadores da avaliação global da BirdLife. "Mas existe agora um novo conjunto de espécies que estão claramente a ser ameaçadas por eventos de clima extremo e secas."
Na lista revista, oito espécies foram acrescentadas à categoria das 'criticamente ameaçadas'. Uma delas é o tentilhão de Floreana Nesomimus trifasciatus, que é endémico de dois dos ilhéus das Galápagos e cujo efectivo decaiu de 150 em meados dos anos 60 para menos de 60 actualmente.
Os conservacionistas listaram o tentilhão como criticamente ameaçado pois sofre de uma elevada taxa de mortalidade nos adultos durante os anos secos associados aos fenómenos La Niña. Os anos secos têm-se tornado mais frequentes ultimamente e têm sido considerados o principal motor do declínio a que se assiste.
"Outra ameaça para as espécies das ilhas pequenas, como o tentilhão de Floreana, é a ameaça de espécies invasoras, em particular mamíferos e plantas", diz Butchart. "Elas estão a ter um efeito devastador sobre os habitats. Por exemplo, as cabras e os burros em Floreana estão a alterar completamente a sua estrutura ecológica."
"Eliminar ou controlar as espécies invasoras é uma acção de conservação muito directa que pode ajudar estas aves a enfrentar estas outras pressões devidas às alterações climáticas."
"As acções cruciais que são necessárias para impedir que uma espécie como esta se extinga são medidas de mitigação das alterações climáticas em larga escala, como a redução das nossas emissões de carbono, limitar a subida das temperaturas globais médias a não de 2ºC e alterar os valores e estilo de vida das sociedades."
Segundo Butchart, outro exemplo de uma espécie que está a ser afectada pelas variações no clima é o akekee Loxops caeruleirostris, uma espécie havaiana. "Não só está a sofrer o impacto negativo das chuvas fortes prolongadas que lhe destrói os ninhos mas também estão extremamente ameaçados pela introdução de doenças, transportadas por mosquitos invasores."
"Os mosquitos estavam restritos às altitudes inferiores, logo as aves estavam a salvo mais acima, longe da malária das aves que eles transportam. Mas devido às alterações climáticas, a zonação de temperaturas está a alterar-se, as altitudes mais elevadas estão mais quentes e os mosquitos vão até mais acima, eliminando a zona livre de doenças onde as aves viviam."
Em resultado, explica Butchart, esta ave também foi 'promovida' ao estatuto de 'criticamente ameaçada'.
"Não há dúvida que estamos a enfrentar uma crise de conservação sem precedentes mas existem histórias de sucesso que nos dão esperança de que nem todas as espécies ameaçadas estão condenadas. Temos algumas soluções mas precisamos de recursos e vontade política."
A BirdLife International lançou recentemente o seu Programa de Prevenção da Extinção, que tem como alvo 190 espécies listadas como criticamente ameaçadas. O seu objectivo é descobrir um "campeão da espécie" para cada ave, que financie o trabalho de conservação no terreno dos "guardiões da espécie".
Uma espécie a que foi retirado o estatuto de criticamente ameaçada, passando a ameaçada foi o pombo imperial das Marquesas Ducula galeata. A principal ameaça a esta espécie são os ratos, uma espécie invasora.
Para proteger a população destas aves de reprodução lenta, os conservacionistas deslocaram 10 adultos para uma ilha vizinha e sem ratos entre 2000 e 2003. A nova comunidade de pombos está agora estabelecida na ilha e espera-se que a população atinja os 50 indivíduos em 2010.
"Esta acção reduziu significativamente o risco de extinção pois a ave está agora espalhada por um número superior de ilhas", diz Butchart. "Serve para demonstrar que não só o trabalho de conservação funciona como é vital para impedir a extinção desta e de outras espécies."
Fonte: Simbiotica
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